São Paulo, sexta, 27 de março de 1998

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GASTRONOMIA
Gigetto, o pioneiro, comemora 60 anos

JOSIMAR MELO
especial para a Folha

Numa cidade sem memória, é sempre bom lembrar: o restaurante Gigetto está completando 60 anos. E com essa data, carrega vários destaques. Primeiro, é um dos poucos remanescentes da combinação de comida e boêmia na primeira metade do século na cidade.
Depois, embora fisicamente tenha passado por vários endereços antes de se fixar no atual ponto do centro, mantém-se nas mãos de herdeiros da mesma família de fundadores, mantendo assim um fio de continuidade difícil de se encontrar nesse tipo de negócio.
Finalmente, o Gigetto está longe de ser ultrapassado ou decadente: se sua comida não traz nada de novo há muito tempo, tampouco deixou de representar uma culinária, a das cantinas, ainda em voga na cidade. E seu público é não apenas fiel, como enorme, além de se renovar constantemente, unindo desde os "formadores de opinião" (jornalistas, artistas) à vizinhança que habita o centro da cidade.
Um público que agora, depois de uma reforma que fechou a casa por alguns dias, encontra um restaurante renovado, com espelhos que lhe dão maior amplidão, uma iluminação mais moderna e uma cozinha reformada.
O Gigetto foi fundado em 15 de setembro de 1938 por João Henrique Lenci e Luigi d"Olivo, italianos. E acaba de ser reaberto com o novo visual, que na verdade muda pouco, respeitando a essência do clima e do ambiente ruidoso e boêmio do velho restaurante.
As mudanças foram operadas pelos atuais proprietários, José Elias Azevedo, um antigo funcionário da casa, e José Henrique Lince de Castro, que é neto do fundador e herdou a parte do avô quando ele morreu dez anos atrás.
Antes de chegar aos 60, a casa caminhou pela cidade. Antes de fundá-lo, o italiano Lenci trabalhou 15 anos em outro ícone da gastronomia paulistana, o centenário Carlino, até ter dinheiro para abrir seu Gigetto, na rua Timbiras.
Daí ele passou para a rua Rio Branco, que ao virar avenida obrigou-o a partir para a rua Nestor Pestana. Somente no final dos anos 60 é que o restaurante se estabeleceu no ponto atual.
A contribuição do Gigetto à cidade não se limita às gerações de comensais e boêmios que ele alegrou e alimentou. Ele foi e é um restaurante que consolidou um estilo de casa, o das cantinas italianas, que proliferou pela cidade.
O Gigetto é o paradigma de uma instituição que, italiana na origem, tornou-se francamente paulistana. A cantina barata, farta, generosa e ecumênica -ainda que de culinária modesta, mas honesta- pertence a São Paulo. Longa vida, pois, ao Gigetto, que irradiou o modelo por toda a cidade.



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