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GASTRONOMIA
Gigetto, o pioneiro, comemora 60 anos
JOSIMAR MELO
especial para a Folha
Numa cidade sem memória, é
sempre bom lembrar: o restaurante Gigetto está completando 60
anos. E com essa data, carrega vários destaques. Primeiro, é um dos
poucos remanescentes da combinação de comida e boêmia na primeira metade do século na cidade.
Depois, embora fisicamente tenha passado por vários endereços
antes de se fixar no atual ponto do
centro, mantém-se nas mãos de
herdeiros da mesma família de
fundadores, mantendo assim um
fio de continuidade difícil de se
encontrar nesse tipo de negócio.
Finalmente, o Gigetto está longe
de ser ultrapassado ou decadente:
se sua comida não traz nada de novo há muito tempo, tampouco
deixou de representar uma culinária, a das cantinas, ainda em voga
na cidade. E seu público é não apenas fiel, como enorme, além de se
renovar constantemente, unindo
desde os "formadores de opinião"
(jornalistas, artistas) à vizinhança
que habita o centro da cidade.
Um público que agora, depois de
uma reforma que fechou a casa
por alguns dias, encontra um restaurante renovado, com espelhos
que lhe dão maior amplidão, uma
iluminação mais moderna e uma
cozinha reformada.
O Gigetto foi fundado em 15 de
setembro de 1938 por João Henrique Lenci e Luigi d"Olivo, italianos. E acaba de ser reaberto com o
novo visual, que na verdade muda
pouco, respeitando a essência do
clima e do ambiente ruidoso e
boêmio do velho restaurante.
As mudanças foram operadas
pelos atuais proprietários, José
Elias Azevedo, um antigo funcionário da casa, e José Henrique Lince de Castro, que é neto do fundador e herdou a parte do avô quando ele morreu dez anos atrás.
Antes de chegar aos 60, a casa caminhou pela cidade. Antes de fundá-lo, o italiano Lenci trabalhou 15
anos em outro ícone da gastronomia paulistana, o centenário Carlino, até ter dinheiro para abrir seu
Gigetto, na rua Timbiras.
Daí ele passou para a rua Rio
Branco, que ao virar avenida obrigou-o a partir para a rua Nestor
Pestana. Somente no final dos
anos 60 é que o restaurante se estabeleceu no ponto atual.
A contribuição do Gigetto à cidade não se limita às gerações de
comensais e boêmios que ele alegrou e alimentou. Ele foi e é um
restaurante que consolidou um estilo de casa, o das cantinas italianas, que proliferou pela cidade.
O Gigetto é o paradigma de uma
instituição que, italiana na origem, tornou-se francamente paulistana. A cantina barata, farta, generosa e ecumênica -ainda que
de culinária modesta, mas honesta- pertence a São Paulo. Longa
vida, pois, ao Gigetto, que irradiou o modelo por toda a cidade.
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