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"É hora de
abandonar a
rebeldia"
ADRIANE GRAU
especial para a Folha, em Los Angeles
Cansado de ver apenas a violência de sua terra natal mostrada no noticiário, o diretor
irlandês Jim Sheridan, 48, resolveu expor sua própria experiencia em "O Lutador".
No longa, que estréia hoje,
criou uma trama que une a atividade política à ação esportiva
do boxe, cercando ambos com
uma história de amor.
Folha - Pode-se considerar
esse filme o mais próximo de
sua experiência pessoal, por
ele ter sido filmado no bairro
onde você cresceu?
Jim Sheridan - A parte que
mostra o atentado é uma dramatização do que vivi, e meu
pai realmente organizou o teatro comunitário para idosos.
Filmamos tudo na rua Sheriff, que fica na vizinhança proletária de Dublin, onde cresci.
A igreja que utilizo no filme é
quase em frente à casa onde eu
morava quando era criança.
Folha - Então foi uma experiência nostálgica?
Sheridan - Não. Tudo mudou para pior ali. Agora há um
pesado tráfico de drogas.
Folha - Você chegou a usar
conhecidos como figurantes?
Sheridan - Sim, o que acabou tornando tudo mais complicado, pois todos se sentiam
à vontade para reclamar diretamente comigo sobre a comida ou os helicópteros.
Folha - Vivendo nos Estados
Unidos há mais de 15 anos, como você vê a Irlanda agora?
Sheridan - Acho que a Irlanda está melhorando, pois
está investindo em educação.
Folha - Há uma mudança de
tom nesse filme, que é mais intimista. Por quê?
Sheridan - Está na hora de
abandonar a rebeldia de "Em
Nome do Pai" e fazer um filme
adulto. Mostrar que o IRA não
representa o ideal de todos os
irlandeses. Pessoalmente, acho
que a violência não conquista
nada e que é hora de parar.
Folha - Foi difícil crescer no
meio de tanta violência?
Sheridan - Para mim, mesmo que alguém seja definido
como um terrorista, ele só vence se conseguir o que quer. Senão, é apenas violência. Meu
avô fazia parte do velho IRA
em 1916. Meu pai não fez parte
do IRA, e eu pensei em me unir
ao IRA após o Domingo Sangrento, só que não queria me
mudar para o norte de Dublin.
Folha - O filme une trama política e romance. Como você
encontrou equilíbrio entre os
dois aspectos?
Sheridan - Sou um contador de histórias conservador,
por causa da mistura de teatro
e pobreza que me formou como artista. Uso uma estrutura
conservadora mesmo em histórias malucas.
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