São Paulo, sexta, 27 de março de 1998

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"É hora de abandonar a rebeldia"

ADRIANE GRAU
especial para a Folha, em Los Angeles

Cansado de ver apenas a violência de sua terra natal mostrada no noticiário, o diretor irlandês Jim Sheridan, 48, resolveu expor sua própria experiencia em "O Lutador".
No longa, que estréia hoje, criou uma trama que une a atividade política à ação esportiva do boxe, cercando ambos com uma história de amor.

Folha - Pode-se considerar esse filme o mais próximo de sua experiência pessoal, por ele ter sido filmado no bairro onde você cresceu?
Jim Sheridan -
A parte que mostra o atentado é uma dramatização do que vivi, e meu pai realmente organizou o teatro comunitário para idosos.
Filmamos tudo na rua Sheriff, que fica na vizinhança proletária de Dublin, onde cresci. A igreja que utilizo no filme é quase em frente à casa onde eu morava quando era criança.
Folha - Então foi uma experiência nostálgica?
Sheridan -
Não. Tudo mudou para pior ali. Agora há um pesado tráfico de drogas.
Folha - Você chegou a usar conhecidos como figurantes?
Sheridan -
Sim, o que acabou tornando tudo mais complicado, pois todos se sentiam à vontade para reclamar diretamente comigo sobre a comida ou os helicópteros.
Folha - Vivendo nos Estados Unidos há mais de 15 anos, como você vê a Irlanda agora?
Sheridan -
Acho que a Irlanda está melhorando, pois está investindo em educação.
Folha - Há uma mudança de tom nesse filme, que é mais intimista. Por quê?
Sheridan -
Está na hora de abandonar a rebeldia de "Em Nome do Pai" e fazer um filme adulto. Mostrar que o IRA não representa o ideal de todos os irlandeses. Pessoalmente, acho que a violência não conquista nada e que é hora de parar.
Folha - Foi difícil crescer no meio de tanta violência?
Sheridan -
Para mim, mesmo que alguém seja definido como um terrorista, ele só vence se conseguir o que quer. Senão, é apenas violência. Meu avô fazia parte do velho IRA em 1916. Meu pai não fez parte do IRA, e eu pensei em me unir ao IRA após o Domingo Sangrento, só que não queria me mudar para o norte de Dublin.
Folha - O filme une trama política e romance. Como você encontrou equilíbrio entre os dois aspectos?
Sheridan -
Sou um contador de histórias conservador, por causa da mistura de teatro e pobreza que me formou como artista. Uso uma estrutura conservadora mesmo em histórias malucas.



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