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TEATRO
Comédia comportamental "Todo Mundo Tem Problemas (Sexuais)" chega a SP após temporada de sucesso no Rio
Peça carioca é "fenômeno parateatral"
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
Um sujeito paquera uma mulher pela internet que se diz bonita
e rica, enquanto ele se acha feio.
Eles marcam encontros sempre
no escuro. Durante dois meses,
fazem amor no escuro, até que,
numa noite, a porta do frigobar se
abre, iluminando o ambiente.
Este é o começo de uma das seis
histórias supostamente verídicas
que compõem o espetáculo "Todo Mundo Tem Problemas (Sexuais)", o maior fenômeno de público do teatro carioca, que estreou no modesto teatro Planetário (200 lugares), exibiu-se depois
no ATL Hall (4.000 lugares) e chega a São Paulo para uma curta
temporada no Credicard Hall.
A peça é uma parceria do psicanalista Alberto Goldin, que mantém uma coluna semanal em "O
Globo", para a qual recebe cartas
anônimas, do diretor e autor Domingos de Oliveira ("Todas as
Mulheres do Mundo", "Confissões de Adolescentes", "Separações" -esta, em parceria com
Priscilla Rozenbaum, acaba de ganhar o Prêmio Shell carioca de
melhor autor de 2000), 64, e do
ator e autor Pedro Cardoso ("O
Auto Falante", "Os Ignorantes"),
39, que entrou para o projeto para
ficar apenas dois meses, já está há
sete e despede-se da peça em São
Paulo.
"Pedro interpreta o meu mundo, é autor e tem liberdade. Um
terço do texto é dele, criado em
ensaios. Ele é o maior comediante
brasileiro, não pretende o riso,
mas leva a platéia à histeria", afirma Oliveira, que já dirigiu Cardoso em peças como "Do Amor",
"Ouro sobre Azul", "Noel Rosa".
Goldin, vizinho do "refúgio" de
Oliveira em Teresópolis (RJ), recebe 50 cartas por mês, que relatam problemas, fantasias e aventuras sexuais. "Diziam-me que algumas eram sensacionais. Adaptei-as com liberdade. Era um material tão fértil que escrevi em dois
meses. É a menos autoral de minhas peças", explica Oliveira.
Dez episódios foram selecionados e, após os ensaios, restaram
seis.
Os autores das cartas não imaginam que seus desabafos estão no
palco, encenados pelo grupo do
Teatro Planetário, que trabalha
com Oliveira; sua mulher, Priscila
Rozenbaum, e sua filha, Maria
Mariana, estão no elenco.
Pedro Cardoso e Domingos de
Oliveira responderam às mesmas
perguntas, feitas por telefone, em
momentos diferentes.
Folha - Todo mundo tem problemas sexuais?
Pedro Cardoso - Não sei. Os personagens têm.
Domingos de Oliveira - Sexo é
muito complicado. As visões que
as pessoas têm do sexo diferem.
Parece que a liberdade sexual é
inatingível.
Folha - Você tem problemas sexuais?
Cardoso - Eu, não.
Folha - Essa é a sua resposta?
Cardoso - Sim. Não acredito em
problemas sexuais.
Oliveira - Nunca conheci alguém
sem problemas. Sartre diz que a
paixão é inútil. Como amar a liberdade e querer alguém preso a
você? O amor não foi feito para
dar felicidade, mas conflitos. Não
sou dos mais tarados. Sexo está
presente em tudo.
Folha - Vocês partiram de um teatro pequeno para um de 4.000 lugares. Como foi essa trajetória?
Cardoso - Essa é a grande questão. Nunca se sabe bem como e
por que isso acontece. Tem algumas pistas. Alguém de fato viveu
aquilo relatado na peça. Mesmo
que seja inventado, viveu aquilo
na cabeça. É a realidade teatralizada, posta em cena. Realidade não
tem linguagem. A arte tem.
Oliveira - Parecia que eu estava
na Broadway. Todos se surpreenderam. Quando pega, pega. Parece que as pessoas já gostam antes
de vê-la. Não tem grosseria, apelação. Cortei o nu. O assunto é forte
demais para um nu. É um fenômeno "parateatral". Deixa de ser
uma peça para ser um local de encontro, um lugar em que o espectador gosta de estar.
TODO MUNDO TEM PROBLEMAS
(SEXUAIS) - De: Alberto Goldin e
Domingos de Oliveira. Direção:
Domingos de Oliveira. Onde: Credicard
Hall (av. das Nações Unidas, 17.955, São
Paulo, tel. 0/xx/11/3177-3663). Quando:
sex. e sáb., às 22h; dom., às 20h. De R$ 15
a R$ 60.
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