São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2001

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TEATRO

Comédia comportamental "Todo Mundo Tem Problemas (Sexuais)" chega a SP após temporada de sucesso no Rio

Peça carioca é "fenômeno parateatral"

MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA

Um sujeito paquera uma mulher pela internet que se diz bonita e rica, enquanto ele se acha feio. Eles marcam encontros sempre no escuro. Durante dois meses, fazem amor no escuro, até que, numa noite, a porta do frigobar se abre, iluminando o ambiente.
Este é o começo de uma das seis histórias supostamente verídicas que compõem o espetáculo "Todo Mundo Tem Problemas (Sexuais)", o maior fenômeno de público do teatro carioca, que estreou no modesto teatro Planetário (200 lugares), exibiu-se depois no ATL Hall (4.000 lugares) e chega a São Paulo para uma curta temporada no Credicard Hall.
A peça é uma parceria do psicanalista Alberto Goldin, que mantém uma coluna semanal em "O Globo", para a qual recebe cartas anônimas, do diretor e autor Domingos de Oliveira ("Todas as Mulheres do Mundo", "Confissões de Adolescentes", "Separações" -esta, em parceria com Priscilla Rozenbaum, acaba de ganhar o Prêmio Shell carioca de melhor autor de 2000), 64, e do ator e autor Pedro Cardoso ("O Auto Falante", "Os Ignorantes"), 39, que entrou para o projeto para ficar apenas dois meses, já está há sete e despede-se da peça em São Paulo.
"Pedro interpreta o meu mundo, é autor e tem liberdade. Um terço do texto é dele, criado em ensaios. Ele é o maior comediante brasileiro, não pretende o riso, mas leva a platéia à histeria", afirma Oliveira, que já dirigiu Cardoso em peças como "Do Amor", "Ouro sobre Azul", "Noel Rosa".
Goldin, vizinho do "refúgio" de Oliveira em Teresópolis (RJ), recebe 50 cartas por mês, que relatam problemas, fantasias e aventuras sexuais. "Diziam-me que algumas eram sensacionais. Adaptei-as com liberdade. Era um material tão fértil que escrevi em dois meses. É a menos autoral de minhas peças", explica Oliveira.
Dez episódios foram selecionados e, após os ensaios, restaram seis.
Os autores das cartas não imaginam que seus desabafos estão no palco, encenados pelo grupo do Teatro Planetário, que trabalha com Oliveira; sua mulher, Priscila Rozenbaum, e sua filha, Maria Mariana, estão no elenco.
Pedro Cardoso e Domingos de Oliveira responderam às mesmas perguntas, feitas por telefone, em momentos diferentes.

Folha - Todo mundo tem problemas sexuais?
Pedro Cardoso -
Não sei. Os personagens têm.

Domingos de Oliveira - Sexo é muito complicado. As visões que as pessoas têm do sexo diferem. Parece que a liberdade sexual é inatingível.

Folha - Você tem problemas sexuais?
Cardoso -
Eu, não.

Folha - Essa é a sua resposta?
Cardoso -
Sim. Não acredito em problemas sexuais.

Oliveira - Nunca conheci alguém sem problemas. Sartre diz que a paixão é inútil. Como amar a liberdade e querer alguém preso a você? O amor não foi feito para dar felicidade, mas conflitos. Não sou dos mais tarados. Sexo está presente em tudo.

Folha - Vocês partiram de um teatro pequeno para um de 4.000 lugares. Como foi essa trajetória?
Cardoso -
Essa é a grande questão. Nunca se sabe bem como e por que isso acontece. Tem algumas pistas. Alguém de fato viveu aquilo relatado na peça. Mesmo que seja inventado, viveu aquilo na cabeça. É a realidade teatralizada, posta em cena. Realidade não tem linguagem. A arte tem.

Oliveira - Parecia que eu estava na Broadway. Todos se surpreenderam. Quando pega, pega. Parece que as pessoas já gostam antes de vê-la. Não tem grosseria, apelação. Cortei o nu. O assunto é forte demais para um nu. É um fenômeno "parateatral". Deixa de ser uma peça para ser um local de encontro, um lugar em que o espectador gosta de estar.


TODO MUNDO TEM PROBLEMAS (SEXUAIS) - De: Alberto Goldin e Domingos de Oliveira. Direção: Domingos de Oliveira. Onde: Credicard Hall (av. das Nações Unidas, 17.955, São Paulo, tel. 0/xx/11/3177-3663). Quando: sex. e sáb., às 22h; dom., às 20h. De R$ 15 a R$ 60.



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