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CINEMA/ESTRÉIAS
"AMEAÇA VIRTUAL"
Ator diz que aceitou fazer longa por ele abordar "imperialismo corporativamente predatório"
Robbins afirma que não é Gates em filme
MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
Ele parece Bill Gates, anda como
Bill Gates, fala e gesticula como
Bill Gates, fundou uma empresa
exatamente igual à de Bill Gates,
mas Tim Robbins afirmou à Folha em Los Angeles que seu personagem no suspense "Ameaça
Virtual", o megalomaníaco Gary
Winston, não é Bill Gates.
"Pesquisei muitos executivos da
indústria, e Gary é uma mistura
de vários deles, não sendo, portanto, nenhum deles", explica
com um sorriso maroto, de quem
sabe que não convenceu.
Robbins, 42, que empresta aos
personagens que interpreta uma
qualidade que é real e contemplativamente sedutora, diz que aceitou o papel porque o filme trata de
um tema apaixonante: o imperialismo corporativamente predatório que os conglomerados de comunicação difundem.
"No começo, compartilhavam-se informações e códigos de softwares, essa era a regra. Até que alguns mais pernósticos, e você sabe de quem estou falando, decidiram que os bilhões estavam na sonegação da informação e construíram impérios. Apropriar-se
do código de um programa é conceito absurdo."
Por declarações como essas,
Robbins é conhecido como uma
das vozes mais politicamente ativas da indústria cinematográfica,
engajamento que ele começou a
praticar ainda na universidade,
quando fundou o Actor's Gang,
uma produtora experimental que
expressava observações radicais e
filosóficas por meio do teatro
avant-gard.
Não é portanto à toa que ele foi
uma das únicas celebridades a fazer campanha para Ralph Nader,
o líder do Partido Verde, que concorreu à Presidência norte-americana nas eleições passadas, outro
tema sobre o qual tem opinião específica. "Veja o papel da mídia
nas eleições. Como todos têm rabo preso, ninguém falou o que tinha que ser dito, que as eleições
foram roubadas pelo irmão do
homem, que é governador na Flórida. É simples."
Por essas e outras, Robbins decidiu que era hora de se desligar
do mundo tecnológico e afirma
que não se arrependeu. "Não tenho celular, não tenho bip, não
uso meu computador para ficar
on line, não vejo mais televisão, só
ouço rádios que não tenham comerciais e leio um jornal apenas,
"The Nation"."
"O que faço com meu tempo livre? Leio, reflito, escrevo", explica
ele, que acaba de finalizar a versão
teatral de "Dead Men Walking",
roteiro que adaptou para o cinema e dirigiu e que lhe valeu uma
indicação para o Oscar em 95.
As opiniões de Robbins são tantas e tão apaixonadas que meia
hora é pouco para expressá-las.
"Tenho um problema sério com
celebridades que aceitam fazer
comerciais", diz, sem motivo aparente. "Quanto dinheiro essa gente acha que é necessário ter?"
E, mudando mais uma vez de
assunto, afirma que chegou a hora de a humanidade dar uns passos para trás e perceber que existe
vida além da tecnologia e do sensacionalismo informativo vendido pelas emissoras de TV.
Empolgado, ele nem percebe
quando sua assessora de imprensa entra na sala para resgatá-lo.
"Você precisa desligar sua secretária eletrônica por uma semana
para saber do que estou falando. É
libertador", diz, iniciando campanha. E, mesmo quando é arrastado para fora da sala por uma agora impaciente assessora, dá um
jeito de voltar para pôr um ponto
final no assunto. "Sabe qual é nosso grande poder sobre as máquinas? É que podemos desligá-las.
Não deixe de experimentar."
AMEAÇA VIRTUAL - Antitrust. Direção:
Peter Howitt. Produção: EUA, 2001. Com:
Tim Robbins, Ryan Phillippe, Rachael
Leigh Cook. Quando: a partir de hoje nos
cines Central Plaza, Olido e circuito.
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