São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2001

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CINEMA/ESTRÉIAS

"AMEAÇA VIRTUAL"

Ator diz que aceitou fazer longa por ele abordar "imperialismo corporativamente predatório"

Robbins afirma que não é Gates em filme

MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Ele parece Bill Gates, anda como Bill Gates, fala e gesticula como Bill Gates, fundou uma empresa exatamente igual à de Bill Gates, mas Tim Robbins afirmou à Folha em Los Angeles que seu personagem no suspense "Ameaça Virtual", o megalomaníaco Gary Winston, não é Bill Gates.
"Pesquisei muitos executivos da indústria, e Gary é uma mistura de vários deles, não sendo, portanto, nenhum deles", explica com um sorriso maroto, de quem sabe que não convenceu.
Robbins, 42, que empresta aos personagens que interpreta uma qualidade que é real e contemplativamente sedutora, diz que aceitou o papel porque o filme trata de um tema apaixonante: o imperialismo corporativamente predatório que os conglomerados de comunicação difundem.
"No começo, compartilhavam-se informações e códigos de softwares, essa era a regra. Até que alguns mais pernósticos, e você sabe de quem estou falando, decidiram que os bilhões estavam na sonegação da informação e construíram impérios. Apropriar-se do código de um programa é conceito absurdo."
Por declarações como essas, Robbins é conhecido como uma das vozes mais politicamente ativas da indústria cinematográfica, engajamento que ele começou a praticar ainda na universidade, quando fundou o Actor's Gang, uma produtora experimental que expressava observações radicais e filosóficas por meio do teatro avant-gard.
Não é portanto à toa que ele foi uma das únicas celebridades a fazer campanha para Ralph Nader, o líder do Partido Verde, que concorreu à Presidência norte-americana nas eleições passadas, outro tema sobre o qual tem opinião específica. "Veja o papel da mídia nas eleições. Como todos têm rabo preso, ninguém falou o que tinha que ser dito, que as eleições foram roubadas pelo irmão do homem, que é governador na Flórida. É simples."
Por essas e outras, Robbins decidiu que era hora de se desligar do mundo tecnológico e afirma que não se arrependeu. "Não tenho celular, não tenho bip, não uso meu computador para ficar on line, não vejo mais televisão, só ouço rádios que não tenham comerciais e leio um jornal apenas, "The Nation"."
"O que faço com meu tempo livre? Leio, reflito, escrevo", explica ele, que acaba de finalizar a versão teatral de "Dead Men Walking", roteiro que adaptou para o cinema e dirigiu e que lhe valeu uma indicação para o Oscar em 95.
As opiniões de Robbins são tantas e tão apaixonadas que meia hora é pouco para expressá-las.
"Tenho um problema sério com celebridades que aceitam fazer comerciais", diz, sem motivo aparente. "Quanto dinheiro essa gente acha que é necessário ter?"
E, mudando mais uma vez de assunto, afirma que chegou a hora de a humanidade dar uns passos para trás e perceber que existe vida além da tecnologia e do sensacionalismo informativo vendido pelas emissoras de TV.
Empolgado, ele nem percebe quando sua assessora de imprensa entra na sala para resgatá-lo. "Você precisa desligar sua secretária eletrônica por uma semana para saber do que estou falando. É libertador", diz, iniciando campanha. E, mesmo quando é arrastado para fora da sala por uma agora impaciente assessora, dá um jeito de voltar para pôr um ponto final no assunto. "Sabe qual é nosso grande poder sobre as máquinas? É que podemos desligá-las. Não deixe de experimentar."


AMEAÇA VIRTUAL - Antitrust. Direção: Peter Howitt. Produção: EUA, 2001. Com: Tim Robbins, Ryan Phillippe, Rachael Leigh Cook. Quando: a partir de hoje nos cines Central Plaza, Olido e circuito.



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