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CINEMA
Sessão de longa que reconstitui ação do 11 de Setembro tem clima pesado
Estréia de "Vôo 93" vira psicodrama
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Foi como assistir à reconstituição policial de um assassinato ao
lado dos parentes da vítima. A estréia mundial de "Vôo 93" ("United 93"), primeira produção
hollywoodiana de peso a tratar do
ataque de 11 de Setembro, anteontem em Nova York, foi um dos casos raros em que a platéia chorou
antes mesmo que a primeira imagem fosse mostrada.
O filme foi exibido anteontem à
noite no Ziegfeld Theatre, na
abertura do Tribeca Film Festival,
evento criado na esteira do ataque
por Robert de Niro como maneira
de ajudar a revitalizar a área sul de
Manhattan. Estavam lá o então
chefe de polícia de Nova York,
Raymond Kelly, o então chefe do
corpo de bombeiros, Tom von Essen, o CEO da CBS, Leslie Moonves, a atriz Marcia Gay Harden e
outras celebridades.
Mas foi uma seção inteira de fileiras reservadas o que mais chamou a atenção na sessão especial.
Ali, sentaram-se cerca de 90 parentes e amigos das vítimas daquele vôo. Formavam um bloco
silencioso e unido que observava
e era observado pela platéia, em
busca de reações de lado a lado.
Nem todos estavam lá. Há parentes que não gostaram do resultado final do filme do britânico
Paul Greengrass. Há os que não
gostaram do papel reservado a
seu familiar na ficção. Há os que
acham que ainda é cedo para espetacularizar a desgraça. E há os
que protestam contra a coisa toda
-estes carregavam cartazes do
lado de fora, na rua 54.
Com assunto tão delicado nas
mãos, a Universal, estúdio que
bancou a produção de US$ 15 milhões, tentou se cercar de todos os
lados. Vai dedicar 10% da bilheteria do primeiro fim de semana (o
filme estréia na sexta aqui e em setembro no Brasil) a um memorial
para as vítimas. Tirou do circuito
comercial um trailer tradicional
com cenas do filme e o substituiu
por um mais austero "making of".
O United 93 levantou vôo do aeroporto de Newark, em Nova Jersey, na manhã de 11 de setembro
de 2001, com destino a San Francisco, na Califórnia. A bordo, 33
passageiros, sete tripulantes e
quatro terroristas. Estes faziam
parte do time que seqüestraria
outros três aviões naquele dia
-dois acabaram no World Trade
Center, um no Pentágono.
O que fascina no vôo 93 é o fato
de ser, dos quatro daquele dia, o
que mais elementos se conhece.
Por conta do tráfego aéreo intenso naquela manhã, o vôo atrasou
sua decolagem, atrapalhando o
cronograma de sincronicidade
dos terroristas. Assim, seus passageiros souberam em vôo do
World Trade Center, puderam
deixar recados ou falar com familiares via celular e telefones a bordo e -supostamente, não há provas definitivas- ensaiaram uma
reação para retomar o avião, que
acabaria no solo de um descampado na Pensilvânia.
Pouco depois das 20h, começa o
filme. Greengrass utiliza o estilo
seco de seu docudrama "Domingo Sangrento" (2002). Inicia com
os quatro terroristas na madrugada anterior se preparando para o
ataque, orando, depilando os pêlos do corpo, se vestindo. Entremeia a narrativa do vôo em si com
o "outro lado" daquele dia, a confusão que foi o trabalho dos operadores de vôo, dos militares, das
agências federais.
Então, centra-se no último
avião ainda no ar, cujo destino é
um mistério ainda hoje -fala-se
na Casa Branca ou no Congresso
norte-americano. Para interpretar os 44 envolvidos, o diretor escolheu apenas atores desconhecidos, amadores ou não-atores. O
resultado é dividido: por um lado,
nenhuma estrela "rouba" a cena;
mas há más interpretações.
A história se desenrola -os
dois pilotos e uma comissária de
bordo têm as gargantas cortadas,
um passageiro é esfaqueado-, e
o silêncio massacrante da platéia
só é entrecortado por choros baixos, gritos e suspiros vindos dos
familiares. Alguma redenção é alcançada no final, fantasioso. Mais
do que uma sessão de cinema, a
estréia de "Vôo 93" é uma grande
sessão de psicodrama.
Todos saem em silêncio. Até
que atingem a ante-sala, em que
são agraciados com pipoca, refrigerante e -acredite- amostras
promocionais de lenços de papel.
Aquilo foi história. Isto é Hollywood.
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