São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2007

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Cinema/estréias - Crítica/"O Mundo em Duas Voltas"

Schürmann aportam bem nas telas

Documentário sobre viagem da família de navegadores de SC ao redor da Terra se equilibra entre ação e didatismo

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Vilfredo, Heloisa, David e Katherine Schürmann saíram de Porto Belo (SC) em 23 de novembro de 1997 para dar uma voltinha a bordo do veleiro Aysso (palavra em tupi-guarani que significa elegante, formoso ou bem-feito). Só retornaram em 6 de maio de 2000.
Como sabem os que acompanharam a aventura pela internet, pela série de 34 miniprogramas no "Fantástico", da Globo -e pelos dois livros que Heloisa publicou em seguida-, eles repetiram a rota da primeira circunavegação da Terra, feita pelo esquadra espanhola do capitão português Fernão de Magalhães (1480-1521).
A expedição de Magalhães tinha um escriba, Antonio Pigafetta, que documentou a jornada. Os Schürmann têm na família um cineasta, David, que captou imagens com uma super-16 mm durante os dois anos e meio da viagem, batizada de Magalhães Global Adventure e registrada no documentário "O Mundo em Duas Voltas".
Como em "A Grande Família", o maior sucesso de bilheteria do cinema brasileiro na atual temporada, a carreira do filme dependerá do interesse do público em assistir a algo que, de certa forma, já conhece por outros meios. Será o mais duro teste de popularidade para a família Schürmann -que, habituada a números gigantescos de audiência, nunca disputou batalha em terreno tão inóspito quanto o mercado para documentários nacionais.
A embalagem bem cuidada se preocupa com uma ampla faixa de espectadores. Há uma busca pelo equilíbrio entre ação e didatismo, voltado a agradar jovens e adultos. A circunavegação de Magalhães, por exemplo, é recriada em animação, com breves capítulos habilidosamente enxertados no fio condutor predominante, o da volta ao mundo a bordo do Aysso.

Dramaticidade
As imagens captadas por David são fora de série, mas talvez fosse temeroso acreditar que só elas bastariam, em uma estrutura de diário de bordo, para segurar a narrativa. Coube ao roteirista Luiz Bolognesi ("Bicho de Sete Cabeças", "Doutores da Alegria") e ao montador Manga Campion ("O Invasor") organizar o material bruto para extrair dramaticidade de alguns episódios e sublinhar o caráter épico da viagem.
Essa operação de "arredondamento" tem ao menos um custo pesado: torna os depoimentos de Valfredo e Heloisa um tanto incômodos, porque evidentemente escritos e ensaiados (Fátima Toledo assina nos créditos a "preparação dos depoentes"). Em alguns momentos, tanto se fala que lacunas acabam expostas.
A certa altura, Heloisa lembra história curiosa de uma parada em que uma mulher, impressionada com a loirice da neozelandesa Katherine (que, desconhecia ela, era filha adotiva do casal), pede Valfredo emprestado para ver se consegue gerar com ele criança parecida.
Nenhuma imagem é usada para trabalhar o episódio, o que reflete alguns dos limites naturais de "O Mundo em Duas Voltas": percorrer o planeta em um pequeno veleiro e simultaneamente realizar um filme são tarefas cuja hierarquia está definida, de antemão, nessa ordem.


O MUNDO EM DUAS VOLTAS
Produção:
Brasil, 2007
Direção: David Schürmann
Onde: a partir de hoje, nos cines Frei Caneca Unibanco Arteplex, Patio Higienópolis e circuito
Avaliação: bom


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