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Cinema/estréias - Crítica/"O Mundo em Duas Voltas"
Schürmann aportam bem nas telas
Documentário sobre viagem da família de navegadores de SC ao redor da Terra se equilibra entre ação e didatismo
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Vilfredo, Heloisa, David
e Katherine Schürmann saíram de Porto
Belo (SC) em 23 de novembro
de 1997 para dar uma voltinha a
bordo do veleiro Aysso (palavra
em tupi-guarani que significa
elegante, formoso ou bem-feito). Só retornaram em 6 de
maio de 2000.
Como sabem os que acompanharam a aventura pela internet, pela série de 34 miniprogramas no "Fantástico", da
Globo -e pelos dois livros que
Heloisa publicou em seguida-,
eles repetiram a rota da primeira circunavegação da Terra, feita pelo esquadra espanhola do
capitão português Fernão de
Magalhães (1480-1521).
A expedição de Magalhães tinha um escriba, Antonio Pigafetta, que documentou a jornada. Os Schürmann têm na família um cineasta, David, que captou imagens com uma super-16
mm durante os dois anos e
meio da viagem, batizada de
Magalhães Global Adventure e
registrada no documentário "O
Mundo em Duas Voltas".
Como em "A Grande Família", o maior sucesso de bilheteria do cinema brasileiro na
atual temporada, a carreira do
filme dependerá do interesse
do público em assistir a algo
que, de certa forma, já conhece
por outros meios. Será o mais
duro teste de popularidade para a família Schürmann -que,
habituada a números gigantescos de audiência, nunca disputou batalha em terreno tão
inóspito quanto o mercado para documentários nacionais.
A embalagem bem cuidada se
preocupa com uma ampla faixa
de espectadores. Há uma busca
pelo equilíbrio entre ação e didatismo, voltado a agradar jovens e adultos. A circunavegação de Magalhães, por exemplo, é recriada em animação,
com breves capítulos habilidosamente enxertados no fio condutor predominante, o da volta
ao mundo a bordo do Aysso.
Dramaticidade
As imagens captadas por David são fora de série, mas talvez
fosse temeroso acreditar que só
elas bastariam, em uma estrutura de diário de bordo, para segurar a narrativa. Coube ao roteirista Luiz Bolognesi ("Bicho
de Sete Cabeças", "Doutores da
Alegria") e ao montador Manga
Campion ("O Invasor") organizar o material bruto para extrair dramaticidade de alguns
episódios e sublinhar o caráter
épico da viagem.
Essa operação de "arredondamento" tem ao menos um
custo pesado: torna os depoimentos de Valfredo e Heloisa
um tanto incômodos, porque
evidentemente escritos e ensaiados (Fátima Toledo assina
nos créditos a "preparação dos
depoentes"). Em alguns momentos, tanto se fala que lacunas acabam expostas.
A certa altura, Heloisa lembra história curiosa de uma parada em que uma mulher, impressionada com a loirice da
neozelandesa Katherine (que,
desconhecia ela, era filha adotiva do casal), pede Valfredo emprestado para ver se consegue
gerar com ele criança parecida.
Nenhuma imagem é usada
para trabalhar o episódio, o que
reflete alguns dos limites naturais de "O Mundo em Duas Voltas": percorrer o planeta em um
pequeno veleiro e simultaneamente realizar um filme são tarefas cuja hierarquia está definida, de antemão, nessa ordem.
O MUNDO EM DUAS VOLTAS
Produção: Brasil, 2007
Direção: David Schürmann
Onde: a partir de hoje, nos cines Frei Caneca Unibanco Arteplex, Patio Higienópolis e circuito
Avaliação: bom
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