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OPINIÃO
Era como Fred Astaire
Aprendi a ter prazer no meu ofício olhando Michael Jackson dançar
DEBORAH COLKER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ele era um bailarino.
Qualquer um que olhasse
Michael Jackson dançando
também queria dançar. E isso é
a coisa mais importante que
pode haver no mundo dessa e
de qualquer outra arte.
O planeta inteiro -crianças,
adolescentes e adultos- passou a imitar as coreografias que
ele desenvolveu, seu breque,
sua maneira de quebrar a música no corpo, a forma como unia
os passos ao ritmo.
O jeito de ele dançar era hip
hop, era funk, era breakdance
-mas não resultava em nada
disso, porque era reinvenção.
Tinha as proporções de um
bailarino. Pernas compridas,
mãos enormes, aqueles braços.
Seu corpo era completamente
expressivo. Como Pelé, nasceu
com as medidas perfeitas.
A dança é uma vida muito árdua, exige grandes esforços. E
Michael era um símbolo total
disso. Completamente meticuloso, perfeccionista.
Ficava visível que todos aqueles passos
estavam milimetricamente
calculados. Uma precisão acima da perfeição. Mas, ao mesmo tempo, era indisfarçável o
prazer que sentia ao fazer
aquilo.
E nem precisava dançar. No
clipe que gravou aqui no Brasil, Michael quase só andava.
Mas com uma elegância e uma
destreza comparáveis apenas
às de Fred Astaire -que de fato era um de seus ídolos.
Aprendi a ter prazer no meu
ofício olhando Michael dançar. Se a minha companhia
existe, se a dança está dentro
de mim, responsabilizo totalmente esse homem por isso.
Ele teve momentos mais
exuberantes, discos menos
brilhantes, mas uma festa sem
Michael não acontece. É como
se eu não tivesse ido.
Essas coisas são incomparáveis, mas John Lennon me
passou pela cabeça. Quando a
gente vai ter a possibilidade de
ter outro cara como esse? Saímos perdendo. A humanidade
sem Michael Jackson está
atrasada.
DEBORAH COLKER, 48, é bailarina e coreógrafa.
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