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"A PAIXÃO NO BANCO DOS RÉUS"
Insensatez marca trilha para a morte
WALTER CENEVIVA
COLUNISTA DA FOLHA
Precisei chegar à página 111
para encontrar a razão que levou Luiza Nagib Eluf ao título do
livro em que trata de homicídios
passionais. Afirma ela que: "Paixão não é sinônimo de amor".
Com a experiência de sua carreira no Ministério Público de São
Paulo, diz que a paixão não basta
para produzir o crime e, embora
possa explicá-lo, não justifica o
assassinato. A dupla caminhada
ao cemitério e ao banco dos réus é
o fim lógico da paixão insensata.
Um intervalo de 123 anos separa
a primeira da última narrativa de
14 casos verídicos. No Maranhão
de 1873, o desembargador Pontes
Vesgueiro, sexagenário, cortou a
punhaladas a vida breve da jovem
Mariquita. No virar do milênio
em Ibiúna (SP), o jornalista Antonio Marcos Pimenta Neves, igualmente sexagenário, abateu a tiros
Sandra Gomide, com a metade de
sua idade, também jornalista.
O drama de tantas mortes ocupa uma parte da obra. Luiza oferece dois acréscimos: a teoria dos
delitos passionais e a entrevista
com o criminalista Valdir Troncoso Peres, no confronto das valorizações profissionais do advogado e da promotora.
Nem sempre são velhos matando moças indefesas. A marca da
paixão mal vivida exibe o ciúme, o
adultério ou a violência irracional.
O ciumento é irracional. Persegue
incessantemente a verdade que,
se descoberta, o fará sofrer. Não
descansa. O grande pintor Almeida Junior morreu assim. Seu primo, José de Almeida Sampaio, sozinho, de visita na casa do artista,
bisbilhotou suas gavetas e encontrou um bilhete amoroso que sua
mulher, Maria Laura, havia mandado ao pintor. Matou-o com facada certeira. Foi absolvido. Era o
tempo da defesa da honra, da violenta emoção, excludentes da punibilidade. Luiza é firme na crítica
ao autor do crime passional, que
age pela necessidade ilimitada de
dominar.
Há, no livro, exemplos de todas
as paixões. Há homicídios misteriosos (o do Sacomã, atribuído ao
tenente Bandeira) e mortes de
responsabilização imediata (Dorinha Duval matando o marido
num repente de discussão e violência). São vidas de paixão e
ódio, como na ligação homossexual em que um dos parceiros não
aceitou que o outro o abandonasse para se casar legalmente. Decapitou-o. Mortes que a obra explica, mas, como diz a autora, nunca
se justificam.
A Paixão no Banco dos Réus
Autora: Luiza Nagib Eluf
Editora: Saraiva
Quanto: R$ 26 (199 págs.)
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