Em Campos do Jordão, maestro guia Orquestra Acadêmica por repertório que passeia por Strauss e Rimski-Korsakov

Compositora-residente do evento, Gabriela Geluda participa com solo em "Who Cares If She Cries II"; concerto terá reprise em SP

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No mundo da música clássica, o método de ensaio da orquestra varia de acordo com o maestro. Assim como há aqueles que recorrem a palavrões e ameaças, há os que falam pouco e enfiam a cara na partitura, e outros que preferem conquistar a cumplicidade dos musicistas com piadas e anedotas.
Diretor artístico do 38º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, Roberto Minczuk resolveu inovar na preparação do concerto de encerramento, que acontece hoje na cidade serrana, com reprise no domingo, na Sala São Paulo.
Enquanto a Folha esperava para falar com o maestro, os alto-falantes do Auditório Cláudio Santoro propagavam melismas típicos da música oriental.
Para ser mais exato: Minczuk encerrou o ensaio de anteontem mostrando à Orquestra Acadêmica o arranjo "árabe" de André Abujamra para a cantiga "Pirulito que Bate Bate".
O objetivo do maestro era familiarizar os instrumentistas com o estilo da suíte sinfônica "Scheherazade", em que Nikolai Rimski-Korsakov (1844-1908) descreve quatro episódios do "Livro das 1001 Noites".
"Korsakov utiliza elementos da música árabe na suíte", explica Minczuk. "Então, usei a gravação para ilustrar o que são os ornamentos e os fraseados da música árabe."
A Orquestra Acadêmica é a vitrine do festival, formada por estudantes escolhidos em audições internacionais, que tocam ao lado dos professores. Em 2007, além do Brasil, foram aprovados alunos de Venezuela, Argentina, Chile e EUA.
"Como o nível da orquestra é elevado, procuramos montar um programa que represente um desafio para eles", diz. É o caso do poema sinfônico "Don Juan", do alemão Richard Strauss (1864-1949), inspirado na narração que Nikolaus Lenau (1802-1850) fez da célebre lenda do sedutor espanhol.
Como o tema deste festival é a mulher, a apresentação tem uma solista convidada, Gabriela Geluda, em "Who Cares If She Cries II", de Jocy de Oliveira, 71, compositora-residente do evento, que conta a acidentada história da partitura.
"Esta peça foi originalmente uma encomenda (embora nunca paga) da Osesp. Porém, depois de programada, foi pelo seu temperamental regente [John Neschling], antes mesmo de conhecer a partitura, sumariamente cancelada", diz a autora. A partitura é dedicada a Minczuk.
Como aconteceu em anos anteriores, o concerto de 2007 vai virar disco. O registro do recital do ano passado, com obras de Glinka, Tchaikovski e Krieger, acaba de ser lançado.