São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

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RUÍDO

DVDs musicais vendem 25% a mais em 2003

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado musical brasileiro se esforça por comemorar a ascensão do comércio de DVDs, em contraponto com a queda de 25% nas vendagens de CDs em 2003. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Discos, a circulação de DVDs no ano passado cresceu 21,4%, em termos de unidades, e 37,2%, em faturamento.
Com esse resultado, a IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica) atesta que o Brasil ascendeu à nona posição entre os maiores vendedores de DVDs do mundo em 2003, com participação de 2% no mercado global.
Se cresce no consumo de música associada à imagem, o país que lidera o ranking de participação na megacomunidade virtual Orkut patina na associação entre música e computador. A grande indústria segue inerte em relação à internet, ao mesmo tempo em que a Inglaterra anuncia o pulo de 100 mil para 500 mil downloads por mês, após a chegada do iTunes.
Lá, a febre virtual repercute nas vendagens dos jurássicos singles (cuja circulação caiu de 72 milhões de cópias anuais no início dos anos 80 para 36 milhões agora) e álbuns.
A indústria fonográfica local acusa um acréscimo de 3,7% na venda de álbuns e o primeiro aumento na circulação de singles desde 1999. De abril a junho, o consumo cresceu 15,4% em comparação com o mesmo período de 2003. Enquanto isso, no Brasil, a indústria segue computando os dados do ano passado.

O NÃO-LANÇAMENTO

História quase secreta é a da banda pernambucana Ave Sangria, um fruto proibido de ecletismo perdido no pomar do rock brasileiro dos anos 70. Musicalmente, o grupo praticava um dois pra cá, dois pra lá de hard rock e psicodelia, trio elétrico e samba nordestino. Chegou à indústria fonográfica com ajuda ilustre dos correlatos contemporâneos Novos Baianos. O disco único, "Ave Sangria", saiu em 74 pela Continental (hoje abrigada na hibernante Warner), com produção algo desvirtuada de Márcio Antonucci (da dupla iê-iê-iê Os Vips). Além do ecletismo, o que ficou catalogado nos livros da história secreta foi o samba-choro-rock "Seu Waldir", em que o narrador declarava seu amor ao tal seu Waldir, num caso raro de rock explicitamente gay em plena ditadura repressora. Uma tentativa de reedição aconteceu em 99, movida pelos próprios ex-integrantes do grupo, mas a Warner e a Ave Sangria continuam hibernando.

TV SAMBA
Apostando na simbiose som-imagem, a independente Deckdisc leva Teresa Cristina à TV Cultura para um especial de fim de ano que deve virar o primeiro DVD da sambista moderna carioca. A gravadora abocanha a TV também em futuros DVDs de Dead Fish e Falamansa. O primeiro entrará na série "MTV Apresenta", o segundo deve sair em março como "MTV ao Vivo". O DVD da roqueira baiana Pitty, feito por conta própria, também deve ser exibido pela MTV.

PONTE RIO-SP
A Deckdisc debuta no hip hop também. Lançará o álbum de estréia solo do carioca Black Alien, um dos habitantes da nação Planet Hemp. A produção é de Alexandre Basa, do núcleo paulistano Instituto.

BAHIA DO MUNDO
A promessa se cumpre: o filme "O Milagre do Candeal", do espanhol Fernando Trueba (de "Sedução"), terá sua première mundial ao ar livre, no Candyall Ghetto Square, em Salvador, no próximo dia 11. O filme retrata o cotidiano do Candeal Pequeno, bairro pobre do músico mundial e líder comunitário local Carlinhos Brown, sob a ótica estrangeira do músico cubano Bebo Valdés, 86.

ANTINARCISO
Música e cinema se cruzam também no curta "Narciso Rap", de Jefferson De, que será exibido em São Paulo neste domingo. Conta a vida de um garoto negro de periferia que pede ao gênio da lâmpada para ser visto como branco pelos brancos e como negro pelos negros. A trilha sonora une Max de Castro e seu pai, Wilson Simonal, a quem o curta é dedicado.

psanches@folhasp.com.br


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