São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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Crítica/"Kagemusha - A Sombra de um Samurai"

Kurosawa faz bela reflexão sobre o poder

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Do trio que elevou o cinema japonês às alturas, Akira Kurosawa foi aquele que mais influências e admiradores arrebanhou no Ocidente. Diferentemente de Yasujiro Ozu e de Kenji Mizoguchi, poetas de uma identidade nipônica mais acentuada, Kurosawa popularizou-se pela ênfase épica de seus filmes, mas, sobretudo, por sua elaborada plástica visual, razão pela qual muitos de seus fãs o consideravam um "artista".
Esta mesma razão impede que seus filmes funcionem na TV, quando vistos em DVD por um espectador que não teve a oportunidade de admirá-los na tela do cinema. Mas a edição em DVD de "Kagemusha - A Sombra de um Samurai" não sai perdendo por esse detalhe, mesmo que não se trate de um pequeno detalhe.
Como em tantos filmes anteriores do mestre, "Kagemusha" é uma ópera, uma seqüência admirável de quadros encenados mas também um genuíno conto filosófico, e é este o aspecto que mantém o filme nas alturas, mesmo sendo visto em condições adversas.
O filme narra as peripécias de um sósia de um grande senhor feudal no século 16 japonês. Em meio às batalhas entre três clãs, para o controle total do território, o senhor Shingen Takeda é ferido de morte. Resta como alternativa a seus subordinados convocar o sósia, um simples ladrão, para ocupar seu lugar em imagem e, desta forma, convencer os inimigos de que o grande senhor permanece vivo e em combate.
Nesta troca, em que a potência deixa um espaço em branco que será ocupada por um fantasma, Kurosawa realiza uma reflexão sobre o poder e sua natureza, a guerra e suas desrazões, sobre a qual a natureza impera soberana e os homens vagam pelo mundo apenas como sombras de si mesmos.


KAGEMUSHA - A SOMBRA DE UM SAMURAI     
Direção:
Akira Kurosawa
Distribuição: Fox; R$ 24,90


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