São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2011

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CRÍTICA HISTÓRIA

Falta de coesão enfraquece obra sobre século 20

Temas que se afastam do eixo central fazem com que livro de Magnoli não se diferencie de outros do gênero

OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em "Liberdade Versus Igualdade", o sociólogo Demétrio Magnoli e a historiadora Elaine Senise Barbosa se propõem a narrar o século 20 a partir da tensão entre os dois ideais citados no título, que os autores consideram, no limite, excludentes.
São dois volumes. No primeiro, "O Mundo em Desordem", que cobre os anos de 1914 a 1945, a demonstração da tese é facilitada pelas circunstâncias: nesse período, em que chegaram ao ápice os totalitarismos de esquerda e de direita, a liberdade esteve sufocada e a tentativa de decretar a igualdade não passou de um pesadelo.
Entre um extremo e outro, no entanto, havia uma embrionária social-democracia.
O livro constata que seu reformismo gradualista está ancorado tanto na atividade parlamentar quanto na promoção de uma rede de proteção aos trabalhadores, mas não extrai daí a conclusão de que liberdade e igualdade podem, afinal, coexistir.
A vocação polêmica da obra é limitada pelo fato de os alvos principais -o nazismo e o comunismo soviético- serem cartas fora do baralho ideológico atual.
É possível que o segundo volume, previsto para 2012, provoque mais barulho se Magnoli, identificado com posições de direita, abordar o advento da esquerda democrática, que reivindica a convergência das aspirações à liberdade e à igualdade.
Em "O Mundo em Desordem", o antagonismo ideológico é diluído pela opção de recorrer a pensadores de esquerda para condenar a ditadura do proletariado.
Assim, o ex-trotskista Magnoli se vale do jovem Leon Trótski para criticar a concepção centralizadora de Lênin.
Do ponto de vista formal, quando os temas se distanciam da tese central, o fio condutor fica ameaçado.
Sem esse eixo, a obra não se diferencia de outras sínteses, e as histórias parecem apenas justapostas.
O capítulo sobre a mestiçagem brasileira, por exemplo, não tem conexão aparente com o argumento central.
O trecho resume a evolução das relações raciais no país para criticar de passagem o ressurgimento, nos governos de FHC e Lula, da "noção de raça, junto com um multifacético projeto político de 'reparação histórica'", tema que Magnoli trata no recente "Uma Gota de Sangue".
Em "O Mundo em Desordem", no entanto, tal tópico, para além da controvérsia, fica deslocado em meio ao debate sobre as visões de mundo socialista e liberal.

OSCAR PILAGALLO, jornalista, é autor de "A História do Brasil no Século 20" (Publifolha).

LIBERDADE VERSUS IGUALDADE/O MUNDO EM DESORDEM
AUTORES Demétrio Magnoli e Elaine Senise Barbosa
EDITORA Record
QUANTO R$ 46,90 (460 págs.)
AVALIAÇÃO regular




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