São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 2000

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RELÂMPAGOS

Sonâmbula

JOÃO GILBERTO NOLL

A pia branca. Os ladrilhos. Tudo como pensava deveria ser um ambiente verdadeiramente higiênico, sem o eufemismo das cores. Não, não estava num cenário hospitalar. Parecia o outro lado do sono, não propriamente um sonho. Talvez uma estância sem volta. A partir dali, só encontraria o que não pudera supor. Talvez lhe aparecesse um outro rosto no espelho, alguém que ela não teria a menor chance de reconhecer. Por enquanto, era aquilo: a pia, os ladrilhos brancos, mais nada. Nem mesmo o espelho. A figura, próxima, não era o seu reflexo, mas uma outra pessoa -o mesmo cabelo, é certo, a cicatriz, os seios levemente estrábicos, algo mais... Não havia, porém, nenhuma referência da véspera. Ela então abraçou o corpo em frente ao seu. E se sentiu beijada.



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