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RELÂMPAGOS
Sonâmbula
JOÃO GILBERTO NOLL
A pia branca. Os ladrilhos.
Tudo como pensava deveria
ser um ambiente verdadeiramente higiênico, sem o eufemismo das cores. Não, não estava num cenário hospitalar.
Parecia o outro lado do sono,
não propriamente um sonho.
Talvez uma estância sem volta.
A partir dali, só encontraria o
que não pudera supor. Talvez
lhe aparecesse um outro rosto
no espelho, alguém que ela não
teria a menor chance de reconhecer. Por enquanto, era
aquilo: a pia, os ladrilhos brancos, mais nada. Nem mesmo o
espelho. A figura, próxima,
não era o seu reflexo, mas uma
outra pessoa -o mesmo cabelo, é certo, a cicatriz, os seios levemente estrábicos, algo
mais... Não havia, porém, nenhuma referência da véspera.
Ela então abraçou o corpo em
frente ao seu. E se sentiu beijada.
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