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Com criações próprias, site vira "casa" virtual de teatro
Página abrigará peças de Mutarelli e Antonio Prata
GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um teatro que pode ser visto
por todos, com quase a mesma
facilidade com que amantes do
sofá assistem a um programa
de TV. Com essa proposta, e
com programação que inclui
peças, minipeças e seriados,
entra no ar o site Teatro para
Alguém (www.teatroparaalguem.com.br). Hoje, serão
disponibilizados trailers dos
trabalhos produzidos especialmente para a página -que poderão ser vistos na íntegra a
partir de segunda-feira, dia 3.
A programação inicial inclui
duas obras inéditas, o seriado
"Corpo Estranho", uma reflexão divertida de Lourenço Mutarelli sobre a falta de identidade do mundo contemporâneo,
e a minipeça "O Arthur", de Antonio Prata, retrato de um delinqüente romanceado por
uma narradora um tanto parcial, a mãe do rapaz.
O espetáculo "Deve Ser do
Caralho o Carnaval em Bonifácio", de Mário Bortolotto, fecha
a programação. A peça, que foi
criada há seis anos e teve breve
carreira sobre os palcos, trata
da saga de três jovens vagabundos que se alimentam de sonhos inalcançáveis.
Para a idealizadora Renata
Jesion, também atriz, dramaturga, diretora e fundadora da
Cia. Auto-Mecânica de Teatro,
estava na hora de o teatro se
render à era digital. "Faltava a
internet ser pensada como
meio artístico", diz ela. Sua proposta gera mais uma possibilidade às artes cênicas. "O teatro
é mais uma frente da internet a
ser explorada", avalia Prata,
que estréia na dramaturgia.
Renata, que iniciou a empreitada há dez meses, diz ter sido
norteada pela busca por qualidade. "Apenas aquilo que tem
conteúdo chega a algum lugar
hoje em dia", diz.
O site reúne artistas que se
dividem propositadamente entre profissionais de teatro e cinema. Os integrantes da Cia.
Auto-Mecânica lideram a empreitada de dar forma ao projeto ao lado do cineasta Danilo
Solferini, do diretor teatral Donizeti Mazonas, de atores convidados como Nilton Bicudo e
Gilda Nomacce, de Nelson Kao
e outros diretores de arte.
Eles vivem o desafio de buscar uma nova linguagem para a
arte apresentada no site -uma
linguagem que seja diferente da
usada no teatro tradicional, na
internet, no cinema, na televisão e na fotografia. A idéia é encontrar um híbrido de todas
elas -a filmagem não tem cortes e busca fugir do realismo,
linguagem desgastada pela TV.
"Risco de erro"
Pode levar décadas até que o
teatro encontre uma linguagem assertiva para ser apresentado virtualmente. "Existe uma
sacralização que muitas vezes
engessa o teatro. Não desprezo
obras clássicas, mas, às vezes,
elas são respeitadas demais, e
o teatro vai se estagnando", reflete Mutarelli.
Para o escritor e quadrinista,
os criadores teatrais do passado
tinham maior tempo de execução e reflexão, e isso mudou
com a aceleração do mundo
moderno. "Temos de cometer
algumas heresias para encontrar um teatro que tenha mais a
ver com o nosso tempo. Precisamos experimentar, com o risco de erro", diz.
O conteúdo do Teatro para
Alguém é produzido na própria
casa de Renata -que, com uma
mesa de luz, 12 refletores e quatro grandes cortinas (para formar a caixa preta), transforma
sua sala em palco. Não por acaso, o desenho do site também é
o de uma casa (veja no quadro
ao lado). Ainda que virtual, o
aconchego do lar vem a calhar
num mundo cada vez mais
"despersonificado". "A casa remete à família e também ao
berço de todos os conflitos, que
é o cerne do teatro", diz o diretor Donizeti Mazonas.
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