São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2008

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Com criações próprias, site vira "casa" virtual de teatro

Página abrigará peças de Mutarelli e Antonio Prata

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um teatro que pode ser visto por todos, com quase a mesma facilidade com que amantes do sofá assistem a um programa de TV. Com essa proposta, e com programação que inclui peças, minipeças e seriados, entra no ar o site Teatro para Alguém (www.teatroparaalguem.com.br). Hoje, serão disponibilizados trailers dos trabalhos produzidos especialmente para a página -que poderão ser vistos na íntegra a partir de segunda-feira, dia 3.
A programação inicial inclui duas obras inéditas, o seriado "Corpo Estranho", uma reflexão divertida de Lourenço Mutarelli sobre a falta de identidade do mundo contemporâneo, e a minipeça "O Arthur", de Antonio Prata, retrato de um delinqüente romanceado por uma narradora um tanto parcial, a mãe do rapaz.
O espetáculo "Deve Ser do Caralho o Carnaval em Bonifácio", de Mário Bortolotto, fecha a programação. A peça, que foi criada há seis anos e teve breve carreira sobre os palcos, trata da saga de três jovens vagabundos que se alimentam de sonhos inalcançáveis.
Para a idealizadora Renata Jesion, também atriz, dramaturga, diretora e fundadora da Cia. Auto-Mecânica de Teatro, estava na hora de o teatro se render à era digital. "Faltava a internet ser pensada como meio artístico", diz ela. Sua proposta gera mais uma possibilidade às artes cênicas. "O teatro é mais uma frente da internet a ser explorada", avalia Prata, que estréia na dramaturgia.
Renata, que iniciou a empreitada há dez meses, diz ter sido norteada pela busca por qualidade. "Apenas aquilo que tem conteúdo chega a algum lugar hoje em dia", diz.
O site reúne artistas que se dividem propositadamente entre profissionais de teatro e cinema. Os integrantes da Cia. Auto-Mecânica lideram a empreitada de dar forma ao projeto ao lado do cineasta Danilo Solferini, do diretor teatral Donizeti Mazonas, de atores convidados como Nilton Bicudo e Gilda Nomacce, de Nelson Kao e outros diretores de arte.
Eles vivem o desafio de buscar uma nova linguagem para a arte apresentada no site -uma linguagem que seja diferente da usada no teatro tradicional, na internet, no cinema, na televisão e na fotografia. A idéia é encontrar um híbrido de todas elas -a filmagem não tem cortes e busca fugir do realismo, linguagem desgastada pela TV.

"Risco de erro"
Pode levar décadas até que o teatro encontre uma linguagem assertiva para ser apresentado virtualmente. "Existe uma sacralização que muitas vezes engessa o teatro. Não desprezo obras clássicas, mas, às vezes, elas são respeitadas demais, e o teatro vai se estagnando", reflete Mutarelli.
Para o escritor e quadrinista, os criadores teatrais do passado tinham maior tempo de execução e reflexão, e isso mudou com a aceleração do mundo moderno. "Temos de cometer algumas heresias para encontrar um teatro que tenha mais a ver com o nosso tempo. Precisamos experimentar, com o risco de erro", diz.
O conteúdo do Teatro para Alguém é produzido na própria casa de Renata -que, com uma mesa de luz, 12 refletores e quatro grandes cortinas (para formar a caixa preta), transforma sua sala em palco. Não por acaso, o desenho do site também é o de uma casa (veja no quadro ao lado). Ainda que virtual, o aconchego do lar vem a calhar num mundo cada vez mais "despersonificado". "A casa remete à família e também ao berço de todos os conflitos, que é o cerne do teatro", diz o diretor Donizeti Mazonas.


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