São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2010 |
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TRECHO Cheguei justamente na hora em que minha mãe ia almoçar. Adentrei furibundo a sala e, transtornado, comecei a berrar com minha mãe coisas do tipo: "Escuta aqui: que merda é essa de ficar plantando bilhete debaixo da porta do meu apê? Tá pensando que é mole aturar uma mãe que só fala em se matar o tempo todo? Agora, quem quer que você morra sou eu, viu? Seja uma profissional do suicídio, seja dessa vez mais eficaz e para de brincar com a minha vida que eu não aguento mais!!" (...) Ela suspira e quebra o silêncio: "Pode deixar, meu filho, dessa vez eu serei, como você mesmo disse, uma profissional". Virou-se serenamente, pegou a chave do carro e saiu, deixando o apartamento aberto comigo dentro. (...) Fiquei preocupado que minha mãe fizesse realmente o que prometera e saí pro orelhão tentar falar com ela... Ligo pro Brasas e sou notificado que ela está na sala de aula e ninguém notou nada de anormal nela... Suspirei mais tranquilo... Às 10h30 minha mãe cai fulminada em plena sala de aula. (...) Enfarte fulminante. Ela parou de tomar o Isordil desde a nossa discussão, era daquelas pessoas que tinham que tomar o remédio três vezes ao dia. Uma forma sutil e profissional de se matar. Pego a carta das mãos de Bárbara e começo a ler. Não é necessário dizer que fui absolutamente responsabilizado por sua morte, que ia morrer com aquela ferida na alma, que fui um filho relapso, ingrato, cruel. Extraído de "Lobão - 50 Anos a Mil" Texto Anterior: Lobão conta "vida bandida" em livro Próximo Texto: Skidmore desperta feridas da ditadura Índice | Comunicar Erros |
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