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Skidmore desperta feridas da ditadura
O polêmico "Brasil: de Getúlio a Castello", de 1967, ganha reedição
Livro do pesquisador americano foi acusado pela esquerda de ser simpático ao governo militar brasileiro
LUÍS EBLAK
DE SÃO PAULO
Antes mesmo de chegar às
livrarias, a reedição de "Brasil: de Getúlio a Castello
(1930-64)", do brasilianista
Thomas Skidmore, 78, já reabriu feridas da ditadura
(1964-85) e causa polêmica.
Publicado primeiro em inglês em 1967 e lançado no
Brasil dois anos depois, a
obra foi duramente criticada,
sobretudo pela esquerda.
Intelectuais e acadêmicos
acusaram o trabalho de representar a visão norte-americana sobre a história brasileira e de ter sido simpático
ao governo dos generais.
A Folha ouviu seis historiadores sobre a obra. Metade
fez duras críticas ao livro. A
outra o defendeu.
A edição traz nova tradução e fotos da época.
O prefácio escrito pelo
também brasilianista James
Green é outra novidade e nele é feita uma defesa à obra.
À Folha, Green resumiu
seu texto: "Muitas pessoas
nos anos 1970 imaginavam
que o Skidmore fosse da CIA
[serviço secreto dos EUA].
Pensavam: "ele defende o regime militar". Foi uma leitura
totalmente equivocada".
Green diz que Skidmore jamais simpatizou com a ditadura. Tanto que endossou, já
em 1970, um manifesto nos
EUA pelo fim "das prisões arbitrárias [e] da tortura" aqui.
ACESSO PRIVILEGIADO
O professor da USP José
Carlos Sebe Bom Meihy diz
que a obra desagradou a extrema esquerda por uma razão óbvia: os pesquisadores
não podiam falar sobre a ditadura porque podiam ser
presos e "ele teve acesso privilegiado às informações".
A crítica mais radical ao livro é a de Moniz Bandeira,
professor aposentado da
UnB e um dos primeiros a
comprovar, em 1977, que os
EUA tiveram participação direta no golpe de 1964.
"A percepção dele, no livro, é a da Embaixada Americana", disse Bandeira.
Já a professora da USP Maria Aparecida de Aquino critica o apêndice, publicado só
na edição brasileira, sobre o
papel dos EUA na queda de
João Goulart (1919-76), o presidente deposto em 64.
'[Ele escreveu] Como se,
de repente, ele se lembrasse
de alguma coisa. "Não falamos [da participação dos
EUA no golpe], mas somos
um pouco obrigados a falar'.
E ele fica em cima do muro."
Além de Green, defendem
a obra os historiadores Carlos
Fico (UFRJ) e Marco Antonio
Villa (UFSCar). Este vê com
ironia a acusação de o americano ter tido acesso privilegiado às fontes. Havia, sim,
arquivos disponíveis, diz ele.
"Estamos num país 'sui
generis': intelectual não gosta de biblioteca e historiador
não gosta de arquivo, tem
uma espécie de 'arquivite'."
BRASIL: DE GETÚLIO A
CASTELLO (1930-64)
AUTOR Thomas Skidmore
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Berilo Vargas
QUANTO R$ 55,50 (496 págs)
LANÇAMENTO no dia 1º/12, às
17h30, na USP (av. Professor
Luciano Gualberto, 315/sala 14,
tel. 0/xx/11/3091-3754)
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