São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2010

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Skidmore desperta feridas da ditadura

O polêmico "Brasil: de Getúlio a Castello", de 1967, ganha reedição

Livro do pesquisador americano foi acusado pela esquerda de ser simpático ao governo militar brasileiro

LUÍS EBLAK
DE SÃO PAULO

Antes mesmo de chegar às livrarias, a reedição de "Brasil: de Getúlio a Castello (1930-64)", do brasilianista Thomas Skidmore, 78, já reabriu feridas da ditadura (1964-85) e causa polêmica.
Publicado primeiro em inglês em 1967 e lançado no Brasil dois anos depois, a obra foi duramente criticada, sobretudo pela esquerda.
Intelectuais e acadêmicos acusaram o trabalho de representar a visão norte-americana sobre a história brasileira e de ter sido simpático ao governo dos generais.
A Folha ouviu seis historiadores sobre a obra. Metade fez duras críticas ao livro. A outra o defendeu.
A edição traz nova tradução e fotos da época. O prefácio escrito pelo também brasilianista James Green é outra novidade e nele é feita uma defesa à obra.
À Folha, Green resumiu seu texto: "Muitas pessoas nos anos 1970 imaginavam que o Skidmore fosse da CIA [serviço secreto dos EUA].
Pensavam: "ele defende o regime militar". Foi uma leitura totalmente equivocada". Green diz que Skidmore jamais simpatizou com a ditadura. Tanto que endossou, já em 1970, um manifesto nos EUA pelo fim "das prisões arbitrárias [e] da tortura" aqui.


ACESSO PRIVILEGIADO
O professor da USP José Carlos Sebe Bom Meihy diz que a obra desagradou a extrema esquerda por uma razão óbvia: os pesquisadores não podiam falar sobre a ditadura porque podiam ser presos e "ele teve acesso privilegiado às informações".
A crítica mais radical ao livro é a de Moniz Bandeira, professor aposentado da UnB e um dos primeiros a comprovar, em 1977, que os EUA tiveram participação direta no golpe de 1964.
"A percepção dele, no livro, é a da Embaixada Americana", disse Bandeira. Já a professora da USP Maria Aparecida de Aquino critica o apêndice, publicado só na edição brasileira, sobre o papel dos EUA na queda de João Goulart (1919-76), o presidente deposto em 64. '[Ele escreveu] Como se, de repente, ele se lembrasse de alguma coisa. "Não falamos [da participação dos EUA no golpe], mas somos um pouco obrigados a falar'. E ele fica em cima do muro."
Além de Green, defendem a obra os historiadores Carlos Fico (UFRJ) e Marco Antonio Villa (UFSCar). Este vê com ironia a acusação de o americano ter tido acesso privilegiado às fontes. Havia, sim, arquivos disponíveis, diz ele.
"Estamos num país 'sui generis': intelectual não gosta de biblioteca e historiador não gosta de arquivo, tem uma espécie de 'arquivite'."

BRASIL: DE GETÚLIO A CASTELLO (1930-64)

AUTOR Thomas Skidmore
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Berilo Vargas
QUANTO R$ 55,50 (496 págs)
LANÇAMENTO no dia 1º/12, às 17h30, na USP (av. Professor Luciano Gualberto, 315/sala 14, tel. 0/xx/11/3091-3754)


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