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DOCUMENTÁRIO
Tudo o que você queria saber sobre Jackson
AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA
"Vivendo com Michael
Jackson", que a Sony exibe neste domingo às 21h, é tudo
que você queria saber sobre Jacko
e nunca pôde perguntar. O repórter britânico Martin Bashir pôde.
Foram oito meses de filmagens e
dez horas de entrevistas. E Jackson, conceda-se, respondeu.
O culpado de tudo é papai Joseph Jackson -garante seu filho
mais célebre. Bashir extrai de Michael tocantes revelações sobre a
violência paterna durante sua infância e adolescência. Joseph não
admitia ser chamado de "pai", ensaiava os filhos com um cinto de
couro na mão e gozava as espinhas e o "nariz gordo" de Michael
em plena puberdade.
O infante milionário refugiou-se em Neverland ("Sou Peter Pan
no coração"), tanto em corpo
quanto em espírito. Bashir o visita, aqui, lá e em todo lugar.
Jackson abre-se até sobre sua relação com as mulheres, da rejeição à precoce cantada de Tatum
O'Neil até aos critérios de escolha
das mães de aluguel de seus três filhos, Prince Michael 1, Paris e
Prince Michael 2, o bebê apelidado de "Blanquet", apresentado ao
mundo ao ser balançado numa janela de hotel em Berlim.
Mas o próprio Michael compromete o pacto de confiança que sua
inédita acessibilidade vinha construindo com o espectador. Por
duas vezes, o cantor nega ter feito
cirurgias plásticas, exceto as duas
realizadas em seu nariz, "para respirar melhor e atingir notas mais
altas".
Não surpreende que, a seguir,
possam ser postas em dúvida,
ainda que com irritante redundância pela narração em off, suas
enfáticas negativas quanto às suspeitas de pedofilia, disseminadas
desde que em 1993 Jackson optou
por um acerto financeiro extrajudicial para livrar-se das acusações
de abuso de um menor de 13 anos.
"Não é sexual!", garante, indignado, quando Bashir comenta o
hábito de convidar adolescentes a
dormir em sua cama em Neverland enquanto Michael dormiria
num sleeping-bag no chão. Um
deles, Gavin, 12 anos declarados,
recuperado de um câncer infantil,
depõe com as mãos entrelaçadas
às do ídolo, candidamente
apoiando a cabeça em seu ombro
ao sorrir para a câmera. Seu espectro nos perturba até muito depois do filme.
Vivendo com Michael Jackson
Direção: Martin Bashir
Quando: domingo (2/3), às 21h, na Sony
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