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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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DOCUMENTÁRIO

Tudo o que você queria saber sobre Jackson

AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA

"Vivendo com Michael Jackson", que a Sony exibe neste domingo às 21h, é tudo que você queria saber sobre Jacko e nunca pôde perguntar. O repórter britânico Martin Bashir pôde. Foram oito meses de filmagens e dez horas de entrevistas. E Jackson, conceda-se, respondeu.
O culpado de tudo é papai Joseph Jackson -garante seu filho mais célebre. Bashir extrai de Michael tocantes revelações sobre a violência paterna durante sua infância e adolescência. Joseph não admitia ser chamado de "pai", ensaiava os filhos com um cinto de couro na mão e gozava as espinhas e o "nariz gordo" de Michael em plena puberdade.
O infante milionário refugiou-se em Neverland ("Sou Peter Pan no coração"), tanto em corpo quanto em espírito. Bashir o visita, aqui, lá e em todo lugar.
Jackson abre-se até sobre sua relação com as mulheres, da rejeição à precoce cantada de Tatum O'Neil até aos critérios de escolha das mães de aluguel de seus três filhos, Prince Michael 1, Paris e Prince Michael 2, o bebê apelidado de "Blanquet", apresentado ao mundo ao ser balançado numa janela de hotel em Berlim.
Mas o próprio Michael compromete o pacto de confiança que sua inédita acessibilidade vinha construindo com o espectador. Por duas vezes, o cantor nega ter feito cirurgias plásticas, exceto as duas realizadas em seu nariz, "para respirar melhor e atingir notas mais altas".
Não surpreende que, a seguir, possam ser postas em dúvida, ainda que com irritante redundância pela narração em off, suas enfáticas negativas quanto às suspeitas de pedofilia, disseminadas desde que em 1993 Jackson optou por um acerto financeiro extrajudicial para livrar-se das acusações de abuso de um menor de 13 anos.
"Não é sexual!", garante, indignado, quando Bashir comenta o hábito de convidar adolescentes a dormir em sua cama em Neverland enquanto Michael dormiria num sleeping-bag no chão. Um deles, Gavin, 12 anos declarados, recuperado de um câncer infantil, depõe com as mãos entrelaçadas às do ídolo, candidamente apoiando a cabeça em seu ombro ao sorrir para a câmera. Seu espectro nos perturba até muito depois do filme.


Vivendo com Michael Jackson   
Direção: Martin Bashir
Quando: domingo (2/3), às 21h, na Sony



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