São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

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OSCAR 2005

O ator e diretor norte-americano entrega hoje ao presidente da Academia um abaixo-assinado com mais de 500 assinaturas

Redford se manifesta contra veto a Drexler

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A WEST HOLLYWOOD

Robert Redford entrega hoje ao presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas o abaixo-assinado com mais de 500 assinaturas de personalidades do meio artístico do mundo inteiro protestando contra a exclusão de Jorge Drexler da cerimônia de entrega do Oscar de ontem.
O ator e diretor norte-americano leva a seu colega Frank R. Pierson, presidente da entidade máxima da comunidade cinematográfica dos EUA, o texto em que é criticado o veto ao músico uruguaio na apresentação de sua canção "Al Otro Lado del Río", do filme "Diários de Motocicleta", que concorria a melhor música. A praxe na categoria é que o autor defenda sua própria obra.
Em seu lugar, estavam previstas as apresentações do ator espanhol Antonio Banderas e do guitarrista mexicano Carlos Santana. O veto a Drexler, músico pouco conhecido nos EUA, partiu do produtor-executivo da transmissão televisiva, Gil Cates, 70, que preferiu "estrelas que chamem audiência".
O veterano diretor chegou a convidar Enrique Iglesias e o casal Jennifer Lopez e Marc Anthony. O primeiro recusou, os últimos alegaram conflito de agenda. Banderas só aceitou a tarefa depois de consultar membros de "Diários", dirigido pelo brasileiro Walter Salles, que deram sinal verde.
Redford, criador e presidente do Festival de Sundance, entrega o texto com assinaturas de nomes como os diretores mexicanos Alejandro González Iñárritu ("Amores Brutos") e Alfonso Cuáron ("E Sua Mãe Também"), o francês Michel Gondry ("Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembrança") e os brasileiros Daniel Filho e Andrucha Waddington. O ato é inédito e deve causar polêmica.
Primeiro porque a briga dos que assinam o protesto não é com a academia, que foi liberal ao escolher uma música cantada em espanhol pela primeira vez em 77 anos. Segundo porque seu presidente, Frank Pierson, não é estranho ao cinema não-comercial.
Cates se recusou a comentar a polêmica. No blog que manteve até a véspera do Oscar, escreveu apenas: "Passei várias horas numa sessão de gravação musical com alguns dos artistas que vão apresentar as músicas indicadas ao Oscar. Depois de ouvir Beyoncé, Josh Groban, Antonio Banderas e Carlos Santana afinarem suas performances com a orquestra completa da cerimônia, conduzida por Bill Conti, estou mais confiante do que nunca de que os números musicais serão um ponto alto neste ano".
A Folha apurou que Cates estranhou a lista das canções ao receber os títulos indicados, que traziam duas músicas estrangeiras, e pediu recontagem dos votos. O produtor considerou incomum a ausência de nomes de apelo midiático, como o de Mick Jagger, que era um dos favoritos a uma das vagas por "Blind Leading the Blind", que fez para "Alfie".
Cates excluiu também da noite de ontem o coro de meninos franceses que originalmente canta "Vois Sur ton Chemin" em "A Voz do Coração", colocando no lugar o American Boychoir, acompanhado da cantora pop Beyoncé, de grande apelo entre o público adolescente, que defenderia também "Learn to Be Lonely", originalmente com a voz da inglesa Minnie Driver no musical "O Fantasma da Ópera", e a canção de "O Expresso Polar".
A notícia do veto a Drexler e o abaixo-assinado causaram repercussão. O assunto foi reportagem no jornal "The Los Angeles Times" de domingo e no tablóide "The New York Post" do dia anterior, que estampou: "Veto a latino causa fúria em Oscar". Na saída da entrega do Independent Spirit Awards, no sábado, Drexler era um dos mais procurados para dar entrevistas, mesmo sem ter ganhado nenhum prêmio.


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