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Mostra exibe corpos e órgãos humanos reais
Peças são fruto de doação da China, foram desidratadas e "plastificadas" quimicamente, ficando maleáveis e sem odor
Exposição é cópia "menos artística" de alemã, que desde os anos 90 gera grande polêmica com estetização dos corpos
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
A vaca fatiada que Damien
Hirst apresentou em Londres,
no fim dos anos 90, já foi pro
brejo. A exposição "Corpo Humano - Real e Fascinante", que
acompanha a mostra dedicada
a Leonardo Da Vinci, na Oca do
parque Ibirapuera, traz um histórico mais polêmico do que os
cortes bovinos do artista plástico inglês, reunindo 16 corpos e
225 órgãos humanos, tratados
com uma técnica chamada de
polimerização.
"Corpo Humano" é uma das
cinco versões -ou cópias- da
exposição "Körperwelten"
[mundos do corpo], criada nos
anos 90 pelo alemão Gunther
von Hagens. Existe uma pequena diferença na abordagem.
Enquanto Von Hagens assume
a estetização dos corpos -entre seus "objetos de arte", ele
criou uma "imitação" da "Vênus de Milo com Gavetas", de
Salvador Dalí-, a mostra que
chega a São Paulo quer se fixar
na experiência científica.
"Nossa abordagem é científica e não artística", defende o
médico Roy Glover, criador da
mostra. "A exposição foi projetada apenas para educar e ajudar as pessoas a aprender sobre
seus corpos, por meio da dissecação meticulosa, preservação
e exibição respeitosa de corpos
humanos de verdade."
O processo de preservação
dos corpos e órgãos é conhecido como "plastinação" ou polimerização: o corpo é desidratado e "plastificado" quimicamente, de modo a ficar maleável e sem cheiro.
A disposição das "peças", em
nove galerias, começa com o esqueleto, passa pelos sistemas
nervoso, circulatório, urinário,
digestivo e reprodutivo, compara órgãos sadios e doentes, e
termina na seção "O Corpo
Tratado". Aqui, Glover exibe
próteses e lembra equipamentos usados em cirurgias.
"Temos também uma seção
interativa em que os visitantes
podem manipular órgãos preservados com polimerização.
Isto permite as pessoas sentirem como são e entender melhor seu valor educacional."
Os maiores entusiastas da
mostra costumam ser profissionais ou estudantes da área
de saúde. Diferente da exposição de Von Hagens, que foi repelida por católicos e evangélicos na Alemanha, "Corpo Humano" não sofreu perseguição
de grupos religiosos.
"As poucas pessoas que manifestaram objeção o fizeram
por motivos pessoais. A resposta do público tem sido incrivelmente positiva. Até hoje mais
de 3 milhões de pessoas visitaram a exposição desde a abertura, em 2004", diz Glover.
Mais polêmica
A estetização dos corpos não
é a única polêmica que tem envolvido matriz e cópias da exposição. Mas também a origem
dos cadáveres exibidos. A revista alemã "Der Spiegel" chegou a
acusar Von Hagens de usar cadáveres de prisioneiros políticos chineses, executados pelo
regime do país. Tanto o alemão
quanto Glover garantem que os
corpos e órgãos que exibem são
fruto de doação.
Enquanto as cópias tentam
uma abordagem discreta, o midiático Von Hagens faz tudo
para aparecer. Fez James Bond
"contracenar" com suas
"obras" no filme "Cassino Royale". E inaugurou, no fim do
ano passado, na cidade alemã
de Guben, um "plastinarium"
para a fabricação em escala industrial dos corpos humanos
polimerizados e animais grandes, como elefantes e girafas.
Em breve, o médico alemão
vai vender "fatias" de pato por
100 (cerca de R$ 275) na loja
da mostra. Cortes humanos serão vendidos apenas para pesquisa e vão custar bem mais:
longitudinais sairão por até
7.000 , quase R$ 20 mil.
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