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TVs resistem a respeitar fusos do país
Governo proíbe que novela das 21h vá ao ar mais cedo em outros Estados; 1/3 das crianças e adolescentes são afetados
Emissoras alegam dificuldade técnica para exibir programas em diferentes horários; exigência da nova portaria entra em vigor em 13 de maio
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As redes de TV ainda não começaram a se preparar para
cumprir a determinação do governo federal de exibir suas
programações de acordo com o
fuso horário de cada região.
Elas são contrárias à norma,
que classificam como censura.
A partir de 13 de maio, quando entra em vigor a nova portaria de classificação de programas de TV, a novela das 21h
(não adequada a menores de 14
anos), por exemplo, não poderá
mais ir ao ar às 20h em Estados
como Roraima, Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul, e às 19h no
Acre e em parte do Amazonas.
No horário de verão, que dura quatro meses, a programação é exibida ainda mais cedo
do que o permitido pela classificação do governo. O Nordeste,
que não adota o horário de verão, veicula os programas uma
hora antes do admitido (a novela das 21h vai ao ar às 20h).
A portaria classifica os programas como não recomendados para antes das 20h (inadequado a menores de 12 anos),
21h (14 anos), 22h (16 anos) e
23h (18 anos). Mais de um terço
das crianças e adolescentes do
país moram nas regiões que
veiculam a programação mais
cedo do que o recomendado,
em razão dos diferentes fusos.
Levantamento realizado pela
Andi (Agência de Notícias dos
Direitos da Infância) a pedido
da Folha aponta que há 26,64
milhões de pessoas de zero a 17
anos nesses locais (incluindo o
Nordeste). Em todo o país, são
60,96 milhões nessa faixa (dados do Censo 2000 do IBGE).
A Andi defende que a portaria protege crianças e adolescente de conteúdos inadequados na TV, como excesso de sexo e violência, e que torna
iguais os direitos da infância
nos diferentes Estados.
A regra do fuso é o principal
motivo para que as redes se
oponham à portaria e à obrigatoriedade de cumprir os horários determinados pela classificação do governo.
A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV)
afirmou à Folha que "há grandes dificuldades técnicas em
realizar transmissões diferenciadas em razão de fuso horário". Segundo a entidade, "as
maiores prejudicadas seriam,
sem dúvida, as afiliadas locais".
Além disso, defende que essa
norma fere a "liberdade de expressão" e que os pais têm "o
direito e a obrigação de zelar
pelo que seus filhos assistem".
Há meios de fazer
Nem as redes nem a Abert
responderam o que teria de ser
feito para que cada região tivesse um diferente horário de programação. Executivos de duas
redes, que pediram para não
ser identificados, explicaram à
Folha o mecanismo.
As TVs retransmissoras dos
locais afetados teriam de gravar
a programação por meio de um
software (programa de computador) e exibi-la com atraso em
relação ao horário de Brasília.
Assim, o Acre, por exemplo,
mostraria tudo com duas horas
de atraso (três no horário de verão), e a novela classificada para as 21h seria então exibida
nesse horário.
Um ajuste teria de ser feito
com os telejornais, para que
fossem ao vivo em todo o país.
O "Jornal Nacional" continuaria no ar às 18h no Acre (17h no
horário de verão), como é
atualmente. Para isso, as retransmissoras teriam de alterar
a ordem de alguns programas.
Os comerciais do telejornal não
poderão trazer conteúdo inadequado a esse horário. Outra
solução é exibir a propaganda
do jornal em outro programa,
veiculado mais tarde. Para isso,
seria preciso negociar antes
com anunciantes.
A Folha apurou que algumas
TVs regionais vêem com bons
olhos a medida, especialmente
porque há a possibilidade de
criar novos espaços à programação regional e à conseqüente venda local de anúncios.
Já as redes esperam que a regra seja derrubada na Justiça.
O Supremo Tribunal Federal
ainda analisará ação movida
pela OAB contra a obrigatoriedade de exibir programas em
horários fixados pelo governo.
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