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Zuza Homem de Mello divide-se entre programar shows para o hotel Fasano e para a periferia de SP
O ceu é o limite
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Há algo em comum entre o hotel Fasano, um dos mais sofisticados de São Paulo, e os CEUs (Centros Educacionais Unificados), os
escolões instalados em bairros da
periferia paulistana pela prefeitura do PT. O nome da coincidência
é Zuza Homem de Mello, 70, diretor artístico de shows que acontecem nessas duas extremidades da
pirâmide social da cidade.
O produtor e musicólogo foi escolhido pelo empresário Rogério
Fasano, 41, para orientar a programação de shows do Baretto,
seleto bar de 50 lugares que fica
dentro do hotel Fasano, na região
dos Jardins.
O Baretto abrigou, no final do
ano passado, show beneficente de
Caetano Veloso, cujos ingressos
custavam R$ 500. O primeiro programado sob a batuta de Zuza foi
o carioca Eduardo Dussek, 44,
que cumpriu temporada nas duas
últimas semanas, a preços bem
menos salgados: R$ 70.
"O cálculo é simples, é o cachê
do artista dividido por 50 lugares", explica Fasano. Ele diz que
gostaria de manter o hábito de
trazer artistas que andam enclausurados no gigantismo do showbiz. "O Baretto está aberto a quem
quiser cantar aqui, desde que
aceite se adequar às condições de
espaço e cachê."
Meio invisível hoje na mídia,
Dussek é artista que cumpre
atualmente agenda tão diversificada -e aparentemente contraditória- quanto a de Zuza.
É que o "showman" que deu
pinta no Baretto é, de certo modo,
o mesmo personagem que ele
vem adaptando para shows fechados que faz em convenções de
empresas, bancos e outras instituições. "O meu é o melhor do
mercado, sou considerado top
nessa área", brinca, sério.
"Transformei-o num show em
que o personagem principal fosse
eu mesmo, quase um vigarista se
colocando como um cara elegante
e sofisticado", explica, exibindo
espírito autocrítico que estende
ao próprio show (leia ao lado).
Dussek diz que seu divórcio
com a grande mídia é proposital.
"Quando começaram a achar que
eu era porra-louca e que minha
obra estava se enfraquecendo, tirei meu time de campo. Graças a
Deus continuei tendo mercado.
Se há uma coisa de que tenho certeza é que tenho talento".
"Sou um caso raro, nunca parei
de trabalhar. Sou empresário de
mim mesmo, tenho minha produtora há 14 anos", prova, dizendo detestar a imagem do artista
que se considera injustiçado. "Se
as pessoas não estão lhe entendendo, quem não está sabendo se
explicar é você", crava.
Mesmo sabendo que o formato
do Baretto é restritivo, Zuza acaba
por justificá-lo como um projeto
que vai contra a corrente do show
business atual. Combate o atual
panorama de shows faraônicos:
"As casas precisam vender 4.000
ingressos e ficam em pânico
quando conseguiram vender só
2.000. É uma loucura".
"Não agüento show de rodeio,
você não vê mais um Edu Lobo
cantando. Edu, aliás, é um dos
que quero trazer para o Baretto",
planeja. Zuza negocia também
uma temporada solo de Paula Toller, num espetáculo a ser montado especialmente por ele e pela líder do Kid Abelha.
Sabe que os shows que prepara
para rodarem os CEUs de abril a
dezembro deste ano também são
restritivos, mas dessa vez para o
público de classe média que circula pela região central da cidade.
Selecionou 30 artistas pouco conhecidos ("mas de grande talento"), como Tião Carvalho, Moisés
Santana e Sudaka. Eles passarão
em rodízio por dez CEUs, em
shows gratuitos para as comunidades locais. "Gosto desse tipo de
alternância. Sempre fui fã de jazz e
de música caipira", sintetiza.
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