|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Corumbiara"
Inspirado em Coutinho, documentário registra questão social indígena
Destaque de hoje do É Tudo Verdade, filme reabre discussão pendente desde as origens do país: o extermínio dos índios
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Cabra marcado para desaparecer. É sob inspiração da matriz do documentário erigida por Eduardo Coutinho já há mais de duas
décadas no clássico "Cabra
Marcado para Morrer" que
continuamos a encontrar o que
de melhor se realiza no campo
do registro das questões sociais
do Brasil, como em "Corumbiara", de Vincent Carelli.
O filme retoma uma questão
pendente desde as origens do
país: o extermínio indígena pelo ocupante branco, que se defende ainda com o argumento
do "progresso econômico". O
que "Corumbiara" mostra é
que nas fronteiras da exploração do território se pratica a
mesma lei da selva implantada
pelos colonizadores portugueses há cinco séculos.
Respeito aos índios, como
evoca com toda a cara-de-pau
um advogado defensor de latifundiários, é sinônimo de atraso. E o doutor Flausino não se
esquece de ilustrar com o
exemplo dos EUA e concluir
que "foi só depois que acabaram de vez com seus nativos
que os EUA puderam crescer e
virar grande potência".
Não há, contudo, ingenuidade ou denuncismo no projeto
de Carelli e sua equipe. Trata-se mais de expor o funcionamento da lógica do extermínio,
constante e contínua, e para isso se faz a opção por um vaivém
cronológico entre aquilo que
foi e o que ainda resta, condenado a desaparecer logo.
Carelli parte, como Coutinho, de um material histórico
registrado em 1985, durante a
busca de pistas de um suposto
massacre em uma aldeia nos
rincões de Rondônia.
Orientado pelo indigenista
Marcelo Santos, o diretor filmou algumas pistas esparsas da
dizimação encontradas num
terreno recém-ocupado. Sua
intenção àquela altura era realizar um documentário sobre o
suposto crime.
Daí em diante o acompanharemos, como um arqueólogo,
na busca de algum sobrevivente que possa comprovar aquele
crime e punir os culpados ou ao
menos impedir que se prossiga
o processo de ocupação seguindo regras brutais. A cada traço
da presença indígena que ressurge em meio ao que ainda
resta de mata, aparecem outras
tantas forças na direção contrária, forçando seu apagamento.
Em torno dele, fazendeiros,
madeireiros, posseiros e grileiros reagem com um sonoro não
à indagação sobre a presença
indígena nos locais ocupados.
E passo a passo o documentário se alça da simples denúncia de um caso que poderia ser
isolado para uma visão mais
completa da dinâmica social e
econômica na qual o índio se
encontra acuado.
CORUMBIARA
Direção: Vincent Carelli
Quando: hoje, às 21h, no Cinesesc;
amanhã, às 15h, no Cinesesc; ter., às
13h, no CCBB
Avaliação: bom
NO BLOG - Leia crítica de "Sobreviventes", de Miriam Chnaiderman folha.com.br/ilustradanocinema
Texto Anterior: Vitrine Próximo Texto: Crítica/"Segundas...": Filme sobre o tédio usa estética de comercial Índice
|