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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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MÚSICA

Quinteto sueco, conhecido pelo sucesso "Lovefool", interrompe pausa de cinco anos com "Long Gone Before Daylight"

Cardigans retorna e explora dualidades

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Ela é a garota que pede para ser amada e feita de boba ao mesmo tempo no hit "Lovefool" (1996). Brincando com as incoerências e perversidades do amor, a vocalista do Cardigans, Nina Persson, 27, encara enfim a chamada maturidade na primeira década de existência do grupo sueco, com "Long Gone Before Daylight".
Claro que para o Cardigans, uma das bandas mais queridinhas do pop dos anos 90, "maturidade" adquire outras conotações.
"Não amadurecemos no sentido convencional. Hoje, percebemos que fazer sucesso não é tudo na vida. Levamos dez anos para perceber que o mais importante na vida é a diversão", diz Persson em entrevista à Folha.
E diversão, na visão do Cardigans, inclui esconder canções sobre conturbados relacionamentos em embalagens aparentemente inofensivas e "para cima"; fazer versões em clima de baladas românticas para pauleiras do Black Sabbath; e, ainda assim, agradar à platéia de seu país de origem, Suécia, mais conhecido pelas inúmeras bandas de heavy metal.
O álbum surge como resultado de sessões de gravações que passaram por diversas regiões da Suécia, Espanha e Inglaterra, após um hiato de cinco anos em que os rumores de uma dissolução eram fortes -na verdade, foi um período em que os integrantes dedicaram-se a projetos paralelos.
"O que guiou esse trabalho foi a vontade de soarmos como seres humanos tocando música de verdade, queríamos uma comunicação mais calorosa", explica. De tanto calor humano, o Cardigans abandona sua estética consagrada, que incluía uma aura kitsch e excêntrica, para se aproximar do country alternativo norte-americano. Ao menos no aspecto musical, os suecos estão mais sérios.
"Isso é normal porque nossa música é internacional, não é tão ligada à cultura sueca", diz. Se o grupo parte para uma sonoridade mais convencional, ainda há quilômetros que o separam de conterrâneos como as "babas" Abba, Roxette e Ace of Base.
De sueco mesmo, estão as participações especiais dos vocalistas do The Hives, Howlin" Pelle Almqvist, e do The Soundtrack of Our Lives, Ebbot Lundberg, no backing vocal.
Permanece a visão pessimista/ realista sobre as relações humanas: "Se é verdade que o amor nunca morre, por que os amantes se esforçam tanto para continuarem?", em "Please Sister".
"Misturo experiências pessoais com histórias que não vivi necessariamente. Não sei dizer de onde vem esse lado melancólico. Acho isso muito comunicativo: todos já tiveram seus maus momentos."
Para a aparente inocência do grupo, Persson dá uma possível explicação: "Viemos da Suécia, um lugar singelo e ingênuo, que não passou por momentos históricos muito difíceis".
Assim é o mundo da loba em pele de cordeiro. No clipe de "For what It's Worth", um personagem vestido com uma máscara de coelho vai dirigindo calmamente seu conversível até dar de cara com um trem. Há duas versões no site (http://umusic.ca/cardigans/ index.php): uma "segura" e outra "suicida". De novo, dois lados (de Persson?) da mesma moeda.


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