São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2004

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ANÁLISE

"Pânico" desconstrói técnicas televisivas

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dado Donabella adverte: "Vocês não podem acreditar no que vêem na televisão!".
O ator participava de "Pânico", o humorístico-jornalístico-variedades diário da rádio Jovem Pan FM que faz sucesso também na TV. A versão televisiva semanal do show do curioso grupo de jovens paulistanos já é o programa mais assistido da Rede TV! -apesar do horário concorrido de domingo, início de noite.
"Televisão é uma maravilha, a gente inventa qualquer negócio", insistiu o ator que se defendia de uma fofoca indiscreta criada pela produção.
A TV adora falar de si mesma. "Pânico" não foge à regra. A utilização tosca de efeitos do espetáculo audiovisual dá a tônica do programa, que se estabelece como lugar de comentário irreverente sobre o próprio repertório televisivo.
Uma legenda improvisada no pé da tela comenta com agilidade as imagens, fazendo versão popularesca da convenção dos canais de notícia a cabo.
A violência que aparece com destaque nos telejornais ganha paródia. No quadro "A Hora da Morte", curta trash de aventura, estrelado por personagens mascarados, não é preciso espremer. O sangue jorra -por exemplo de um saco plástico abastecido diretamente em um açougue.
O repórter-personagem "Gil Couves", alusão a Gil Gomes, comenta notícias de destaque na semana, como a agonia do ídolo Maradona.
O programa de TV complementa o de rádio. Mostrando melhores momentos da semana, o grupo revela o visual que não aparece na performance no rádio. O galã Henri Castelli tasca um "beijo técnico" em dona Inês, para constrangimento da comedida senhora, copeira da emissora, personagem eventual do programa.
O humor barato de "Pânico" vai na linha de experiências consagradas, como a do concorrente Faustão da fase de "Perdidos na Noite", ou a da turma do "Casseta & Planeta", especializada em ironizar personalidades da política e da televisão.
"Pânico" é tosco e direto. O comentário avacalhado desconstrói, pela margem, técnicas convencionais de armação televisiva.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
PÂNICO NA TV. Quando: domingo, às 18h30, na Rede TV!.



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