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Crítica/"Live in Zurich"
Ellington mostra vitalidade de sua orquestra nos anos 50
Em show em Zurique, pianista apresenta boa versão de "Creole Love Call"
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A década de 50 prometia
não ser muito animadora para figuras como
Duke Ellington (1899-1974).
Ícone de outros tempos, o pianista e sua orquestra lutavam
para não serem esquecidos por
um público seduzido por novas
formas, como o bebop.
Nesse contexto, Ellington
desembarcou em Zurique, em
1950. Acompanhado de parceiros de peso e de um repertório
sem arestas, Ellington mostrou
que tinha fôlego, que ainda não
era passado. A apresentação foi
gravada e arquivada por todos
esses anos, tendo sido redescoberta, remixada e lançada lá fora há não muito tempo.
Somente pela versão de
"Creole Love Call", um de seus
clássicos, o álbum já mereceria
ser conhecido. O andamento
lento, conduzido pelo trompete
de Harold Baker e o clarone de
Harry Carney, recebe encanto
novo com as vocalises de Kay
Davis, que criam uma atmosfera sedutora e etérea. Mesmo
quem já conheça várias leituras
para o clássico, irá se surpreender com essa versão.
Mantendo composições próprias como eixo da apresentação, o pianista não se esquece
de contemplar standards, como "How High the Moon" e
"S'wonderful". E, a cada faixa, o
generoso Ellington abre espaço
para o desfile dos solistas que o
acompanhavam na ocasião, como Johnny Hodges, Don Byas e
Jimmy Hamilton. Mesmo sendo um grande pianista, Ellington costumava surgir como
uma figura discreta em seus
discos, destacando-se muito
mais como líder da orquestra.
Raras são as vezes em que solava, dando destaque a seu dedilhado. Aqui não é diferente.
Ao executar uma de sua canções mais conhecidas, "Take
The A Train", cede seu posto ao
piano a Billy Strayhorn, parceiro antigo e coautor da faixa.
Apesar de sempre ter se
mantido fiel à sua música,
Ellington não ignorou os novos
que chegavam. Gravou, em
1962, um belíssimo disco ao lado do saxofonista John Coltrane que, na época, ainda não havia se tornado o mito que viria a
ser depois. Também descobriu
e lançou o pianista sul-africano
Dollar Brand, que se tornaria
mais à frente um nome respeitado na cena freejazzística.
LIVE IN ZURICH, 2.5.1950
Artista: Duke Ellington
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 35, em média
Avaliação: ótimo
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