São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONEXÃO POP

A violência de M.I.A.


Cantora anglo-cingalesa divulga clipe que mostra soldados americanos espancando e atirando em jovens


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

E M uma cidade qualquer, soldados norte-americanos invadem casas e espancam seus moradores. Eles capturam um jovem, ruivo. O rapaz é jogado em um ônibus e vemos que todos os detidos são jovens e ruivos. São levados a uma área desértica, e a violência aumenta. Os agentes atiram à queima-roupa na cabeça de um adolescente, e os outros correm, como numa brincadeira, desviando-se de balas e bombas.
Assim é o clipe da faixa "Born Free", nova música da anglo-cingalesa M.I.A., divulgado nesta semana no site da cantora (www.miauk.com) e no YouTube. Mas, ontem, o YouTube tirou o vídeo de seus domínios. "Proibimos filmes que contenham pornografia ou violência gratuita", disse um porta-voz da empresa à rede BBC.

 


"Born Free", o vídeo, tem quase nove minutos de duração. Foi dirigido por Romain Gavras, filho do cineasta Costa-Gavras. Romain já havia dirigido outro clipe polêmico: o de "Stress", da dupla de eletrônica francesa Justice, em que um grupo de garotos pobres, filhos de imigrantes, agridem pessoas e destroem carros em Paris.
Mais do que chamar a atenção para o racismo europeu ou a política internacional norte-americana, Romain estiliza essas questões com o uso de cores fortes, de câmera lenta e narrativa sempre ágil, rápida.

 


M.I.A. é filha de um guerrilheiro do Exército de Libertação dos Tigres do Tamil Eelam, que luta pela criação de um Estado à parte do Sri Lanka. Seu primeiro álbum, "Arular", fazia referência ao nome do pai. O segundo, "Kala", ao nome da mãe. Não se sabe como chamará o terceiro, que deve sair em junho. Principalmente em "Kala", de 2007, M.I.A. conseguiu reproduzir climas, tensões e sons de várias partes do mundo: funk carioca, bhangra indiano, hip-hop, reggae, dancehall, dance music. Tudo isso resultando em canções que falavam a todos, gerando megahits como "Paper Planes" -por isso "Kala" é um dos três discos mais relevantes dos anos 00.
Em entrevistas, M.I.A. constantemente chamava a atenção para a situação no Sri Lanka e fazia críticas ao imperialismo norte-americano. Mas, na hora de compor, o engajamento de M.I.A. focava-se em juntar músicas terceiro e primeiro mundistas. É, parece, o que falta a "Born Free".

 


O clipe é "polêmico", com cenas "pesadas" e tal, mas não disfarça o óbvio: a música é muito chata. Pontuada por batidas pesadas e rápidas, "Born Free" é um recalque do que fazia o Asian Dub Foundation há uns 15 anos. A voz de M.I.A. aparece em segundo, terceiro plano; a violência (gratuita?) das batidas é quem movimenta a faixa. A impressão é que M.I.A. pensou primeiro no vídeo e depois se preocupou em criar uma música de acompanhamento. É muito pouco para alguém que fazia das coisas mais originais dos últimos anos.

 


Estou ansioso para o próximo disco da M.I.A., mas quem está olhando para frente hoje é o produtor Flying Lotus. No Coachella, ele fez das apresentações mais celebradas; música eletrônica entre o paranoico e o cerebral. Ele lança o disco "Cosmogramma". Vai atrás!

thiago.ney@uol.com.br


Texto Anterior: Crítica/"Live in Zurich": Ellington mostra vitalidade de sua orquestra nos anos 50
Próximo Texto: Música: Sandy diz preferir ser "princesa" a expor a vida
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.