São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 2011

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NINA HORTA

Modelo do casamento ideal


O que gostamos, mesmo, é de uma fila num bufê. Alguns aguentam a espera, mas não é comum

BOLOS, CASAMENTOS, doces e festa. Estamos a calhar dentro do assunto do dia. O que será servido na festança inglesa? Muito menos do que serviríamos aqui, com certeza. Os ingleses tem o hábito de poupar, coisa entranhada neles, que até 1954 ainda conviviam com comida racionada de guerra e seus cupons.
Quais são os modelos principais de casamento em São Paulo, hoje?
O serviço à francesa perdeu pontos. Consiste em convidados sentados, suas mesas postas e comida oferecida pelo garçom, à esquerda do convidado, trazida em baixelas.
Talvez um dia tenha sido a forma ideal. Atualmente, é um serviço muito caro e, principalmente, desconhecido, o que o torna muito rígido. Vejamos. Se a comida em nossa casa fosse servida por alguém, no seu ombro esquerdo, como um papagaio de pirata, estaríamos acostumados. E o costume traz a desenvoltura, a facilidade. Sabemos o nome de quem está nos servindo, queremos aquela asinha da galinha, queremos menos ou mais.
Acontece que não é o caso. A comida brasileira, principalmente, não é formada de "courses" (serviços), primeiro a salada, a sopa, a massa e depois o peixe, a carne, a sobremesa. Não é assim que comemos com mais frequência e sim misturando no prato o arroz, o feijão, a carne, a farofinha, o ovo. E, se não temos o costume, vai ser incômodo um serviço tão formal.
O que gostamos, mesmo, é de uma fila num bufê. Alguns aguentam a espera para evitar a fila, mas não é comum. Um bufê atende bem de 50 a 80 pessoas, mas se dobrarmos o número de bufê, ainda assim podemos ter fila.
Fizemos um banquete numa fazenda paulista onde a anfitriã se esmerara em mostrar tudo o que se comia aqui para que 15 estrangeiros e mais uns cinco brasileiros tivessem uma visão panorâmica dos nossos ingredientes e cozinha. Pois não é que i-me-dia-ta-men-te todos se levantaram e fizeram uma filinha? Inexplicável essa vocação do ser humano para a fila.
O que era inadmissível há pouco tempo, e até pejorativo, como o prato feito, a comida empratada, entrou na maior moda depois da nouvelle cuisine. Os cozinheiros só sabem servir em lindos pratos feitos, o que traz muitos problemas fora de um restaurante, pois a quantidade de pessoas a servir é grande e os pratos não podem esfriar.
Ultimamente, temos feito serviços híbridos que dão certo. Aprontam-se mesas belíssimas fixas, com todas as entradas, como convém a um casamento, mas com comidas frias. Saladas de folha, de grãos, presuntos crus, peixes em ceviches, tudo posto imediatamente depois da cerimônia. O convidado fica mais seguro, já que a parte fria da refeição está lá, esperando por ele. Dispensa-se, no caso, o coquetel de entrada (canapés, cestinhas ou amuse-bouches, como diriam os franceses). Só uma coisinha ou outra, para ocupar as mãos, ou para que não bebam de estômago vazio.
Passado um tempo, os garçons trazem os pratos quentes, e as pessoas aceitam ou não. Se querem continuar com os frios, isso será possível até o fim da festa. Os quentes, também, passarão várias vezes, belamente empratados e sem a necessidade de todos estarem comendo as mesmas coisas ao mesmo tempo.
E há outras invenções e modinhas e copinhos e cumbucas que traremos à baila a qualquer hora.

ninahorta@uol.com.br


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