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CINEMA/ESTRÉIA
Patagônia é cenário de "Histórias Mínimas"
Argentino contrasta paisagem épica com vidas insignificantes
DA REPORTAGEM LOCAL
"Histórias Mínimas" é a volta
por cima do cineasta argentino
Carlos Sorín, 60. Recebido em sua
estréia ("La Película del Rey",
1996) com um punhado de prêmios, incluindo o Leão de Prata
na Mostra de Veneza, Sorín conheceu logo a queda.
Seu segundo filme, "Eversmile,
New Jersey" (1989), rodado em
inglês, com Daniel Day-Lewis, foi
um fiasco, devido ao "excesso de
confiança produzido pelo sucesso
do primeiro", diz o diretor, que
esperou mais de uma década para
retornar ao cinema, com essas
"Histórias Mínimas" (e profundamente argentinas), que estréiam hoje em São Paulo.
Com apenas um ator profissional no elenco, Javier Lombardo
(Roberto), o longa dominou em
2003 a premiação do cinema de
seu país, o Cóndor de Prata, vencendo em oito categorias, inclusive melhor filme e diretor. Sorín
falou à Folha.
(SILVANA ARANTES)
Folha - Por que o sr. escolheu filmar não-atores?
Carlos Sorín - Porque posso trabalhar com eles não como atores,
mas como pessoas que, por suas
características, estão muito próximas dos personagens. Escolho os
intérpretes quando o roteiro está
pela metade e termino de escrever
para eles, sob medida.
Assim, a filmagem se transforma num jogo cujo objetivo é eliminar as inibições naturais de
quem nunca esteve diante de uma
câmera. Filmando muito, surgem, sem querer, instantes de verdade. "Histórias Mínimas" é uma
colagem desses momentos.
Folha - Esse método é também
um modo de desafiar a fronteira
entre ficção e documentário?
Sorín - Suponho que sim. Essa
zona difusa entre a ficção e o documentário me seduz. É estimulante trabalhar num terreno em
que não se sabe de antemão o que
é certo e o que não é. A TV, por
exemplo, encontrou nos "reality
shows" uma forma apaixonante
de mostrar algo que não se sabe se
é verdade ou não.
Folha - Filmar na Patagônia é
afirmar a distância do "centro"?
Sorín - A Patagônia é uma região
que me atrai muito, pelo que há
nela de ausência, pelo vazio que
produz atrás dos personagens.
Parecia-me interessante o contraste de um cenário de dimensões épicas com as histórias insignificantes dos personagens. Mas o
verdadeiro cenário de meus filmes é o rosto humano, não as paisagens, daí minha tendência de
narrar em primeiros planos.
Folha - "Histórias Mínimas" defende a substância da vida comum
ou apregoa a falta de um grande
sentido em qualquer existência?
Sorín - Acho que qualquer história, por mais banal que pareça,
pode ser uma história de cinema.
Mas sinto uma forte atração por
tudo o que ressalte o caráter precário, mínimo, insignificante dos
desejos humanos. Vistas sob o
prisma da paisagem natural, que
leva milhões de anos para sofrer
mudanças, as histórias humanas
são necessariamente intranscendentes, todas -a dos grandes homens e as histórias mínimas.
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