São Paulo, sábado, 28 de maio de 2011

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Condição trágica me seduziu, diz Llosa

Escritor explica por que transformou vida do diplomata britânico Roger Casement em seu mais novo romance

Apesar de baseado em biografia não ficcional, autor afirma que não escreve romances propriamente históricos

ROBERTO KAZ
DE SÃO PAULO

No início de maio, a editora Alfaguara lançou a tradução para o português de "O Sonho do Celta", romance do peruano Mario Vargas Llosa, agraciado com o Nobel de Literatura em 2010.
O livro conta a história real do cônsul britânico Roger Casement (1864-1916), que lutou contra a escravização de negros e índios no Congo e na Amazônia peruana.
Casement defendeu, também, a independência da Irlanda, lutando contra a mesma Coroa britânica à qual servia como diplomata. Descoberto, acabou condenado à forca, em função de relatos de homossexualismo presentes em cadernos atribuídos a ele. Casement nunca assumiu a autoria dos chamados "Diários Negros".
Em entrevista à Folha, por e-mail, o autor fala do "convívio intenso" com o personagem Casement.

 


Folha - No livro, o senhor não conclui se Casement teve relações homossexuais . Acredita que os "Diários Negros" eram verdadeiros?
Mario Vargas Llosa
- É quase certo que Casement foi homossexual. E acredito que tenha sido o autor dos diários, embora duvide que tudo ali seja verdade. Acho que ele inventava, nos diários, fantasias e proezas que não podia experimentar em vida.

Tendo se deparado com vários personagens romanceáveis, por que Casement?
Porque nele, como disse Bataille sobre a condição humana, todos os contrários se fundem e confundem. Casement foi um herói anticolonialista e um defensor dos direitos humanos quando quase não se falava disso na Europa. Ao mesmo tempo foi um ser humano com os defeitos e quedas comuns a todos os mortais. Sua condição trágica me seduziu.

Pretende escrever outro romance histórico?
Depende dos temas que vier a encontrar. De toda forma, meus romances não são propriamente "históricos", porque nunca me preocupei em reconstruir o passado tal como foi.

Após tanto tempo debruçado sobre a vida de Casement, o senhor sonha com ele?
Não diria que sonho. Mas quando escrevo um livro, os personagens se incorporam à minha vida de uma maneira quase visível. Tenho a sensação de compartilhar com eles todas as coisas que faço. Foi assim com Casement, um dos que mais trabalho me deu para inventar.

O SONHO DO CELTA

AUTOR Mario Vargas Llosa
EDITORA Alfaguara
TRADUÇÃO Ari Roitman e Paulina Wacht
QUANTO R$ 47,90 (392 págs.)


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