São Paulo, sábado, 28 de maio de 2011

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CRÍTICA ROMANCE

Fenômeno pop, "Um Dia" vai além da fofura

Romance de David Nicholls fisga várias gerações porque narrativa amadurece com seu casal de protagonistas

THALES DE MENEZES
DE SÃO PAULO

Pesquise no Google e fique assustado com as inúmeras ocorrências que associam "Um Dia", terceiro romance do inglês David Nicholls, à frase "melhor livro do ano". No caso, 2010. Para os leitores brasileiros, corre sério risco de ser o melhor de 2011.
Também roteirista de TV, o autor acertou no mote. Jovem casal se conhece no dia da formatura da faculdade, em 15 de julho de 1988. Eles transam e se despedem. Como tantos, provavelmente para nunca mais se encontrarem.
Mas Emma Morley e Dexter Mayhew terão uma história juntos, e o livro vai mostrá-la contando como estão cada um nos dias 15 de julho dos 19 anos seguintes. Às vezes juntos, às vezes não. Nicholls escreve sobre o que conhece. Nascido em 1966, ele tinha 22 anos na data do primeiro encontro entre Emma e Dexter. Estava mais para a classe média da garota do que para a riqueza do rapaz -mas, com certeza, compartilhava suas referências.
Entre as pessoas que gostam do romance, chamá-lo de "fofo" é recorrente. Vai se tornar ainda mais popular a partir de agosto, quando "One Day" estreia nos cinemas americanos, com Anne Hathaway, a fofa da vez.
Mas talvez a melhor qualidade da obra é não ser tão fofa quanto parece. Nicholls atirou no público jovem, mas acabou acertando também na moçada mais velha.
Porque Dexter e Emma realmente "vivem" 20 anos nas páginas do romance. Por viver, leia-se ter sonhos, tentar realizá-los, não dar certo, mudar de rota, achar que está amando, perceber que não é tanto amor assim, valorizar o que se tem, duvidar que a paixão dure, duvidar que a paixão exista...
A delicada carpintaria de texto de Nicholls consegue variar o tom da narrativa a cada capítulo. Como se o narrador fosse envelhecendo junto com os personagens.
Nos primeiros anos, as observações dos protagonistas são incisivas, até jocosas, implacáveis como a juventude. Emma, intelectual que leva anos para perceber que é atraente, tenta mudar o mundo fazendo teatro, acaba professora de garotos.
O bem-nascido Dexter viaja pelo mundo, conquista todas as garotas que deseja e se torna apresentador de TV. Suas vidas tomam rumos muito diferentes do que imaginavam. Dar a cara para bater vai transformando parte da impetuosidade deles em conformismo. Em outras palavras, eles envelhecem.
O texto fluido do autor cativa quem ainda tem essas duas décadas pela frente. E também quem acabou de passar por elas.

UM DIA

AUTOR David Nicholls
TRADUÇÃO Claudio Carina
EDITORA Intrínseca
QUANTO R$ 39,90 (416 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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