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Televisores terão bloqueadores de programas
DO ENVIADO ESPECIAL
Além da portaria que flexibiliza
o acesso de crianças e adolescentes aos cinemas, o governo federal
deve editar nesta semana um outro instrumento que também trata de classificação indicativa.
Uma medida provisória, prevista para ser assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva até
quarta-feira, irá trazer a primeira
regulamentação de lei, aprovada
em 2001, que impõe dispositivo
bloqueador de programação indesejada nos televisores vendidos
no Brasil.
A MP, que após ser votada pelo
Congresso Nacional vira lei, também tratará da classificação indicativa para TV.
A lei do bloqueador deveria ter
entrado em vigor em dezembro
de 2001, mas foi prorrogada por
medida provisória por 18 meses.
O prazo vence na próxima quarta.
A nova MP irá dilatar novamente
o prazo.
A idéia vem do V-Chip, marca
de um dispositivo comercializado
em televisores nos EUA e no Canadá que bloqueia, por exemplo,
cenas de sexo e violência.
O V-Chip não será adotado no
Brasil, porque encareceria os televisores e complicaria ainda mais o
trabalho de classificação indicativa do Ministério da Justiça.
A tecnologia que será adotada
no país, segundo Paulo Saab, presidente da Eletros (Associação
Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), será parecida com a do "closed caption"
(as legendas ocultas transmitidas
pelas emissoras).
Nesse caso, as emissoras transmitirão um sinal que informará
ao televisor a classificação indicativa do programa que está no ar.
Se um programa classificado
como impróprio para menores de
12 anos (inadequado para exibição antes das 20h) for veiculado às
16h, por exemplo, o televisor
equipado com o dispositivo ativado irá cortar a recepção do sinal
da emissora.
O Ministério da Justiça optou
por essa solução (bloquear um
programa inteiro e não apenas cenas) porque não tem estrutura
para fazer uma classificação tão
detalhada assim.
A Eletros queria que a medida
só entrasse em vigor com a adoção da TV digital, o que, acredita-se, poderá ocorrer em 2007.
Segundo a Casa Civil, os fabricantes de televisores deverão ter
18 meses para se adaptar à novidade. Esse prazo conta a partir da
regulamentação, que deve ocorrer até 90 dias após a assinatura da
medida provisória. Assim, a partir de 31 de março de 2006, todos
os televisores comercializados no
Brasil deverão ter o bloqueador.
A Eletros sugeriu ao governo
que a adoção do bloqueador seja
escalonada. Seis meses após a regulamentação, o dispositivo seria
obrigatório em todos os televisores acima de 29 polegadas. Um
ano depois, entraria nas TVs de 29
polegadas. Após um ano e meio,
seria item de todos os modelos.
De acordo com a assessoria da
Casa Civil, o prazo para as emissoras se adaptarem à MP será estabelecido em decreto.
A medida dará maiores poderes
ao Ministério da Justiça na classificação indicativa de programas
de TV. Deve estabelecer que a regulamentação será feita por decreto, e não por portaria, o que
permite estipular multas às emissoras, que devem variar de R$ 10
mil a R$ 100 mil.
A nova regulamentação da classificação para TV deverá ser discutida, em consultas e audiências
públicas, durante todo o segundo
semestre deste ano.
Uma tendência é o governo passar a classificar programas jornalísticos. A idéia é inibir o sensacionalismo em telejornais policiais
vespertinos. Hoje, programas jornalísticos e ao vivo não são classificados. Para os demais, as faixas
são as seguintes: livres (até 20h) e
impróprios para menores de 12
anos (exibição inadequada antes
das 20h), 14 anos (21h), 16 anos
(22h) e 18 anos (23h).
A classificação indicativa é um
assunto polêmico. As emissoras
afirmam que ela não pode ser impositiva, ou seja, que não podem
ser obrigadas a cumpri-la. Em
2000, o governo, via portaria, tentou tornar obrigatório o cumprimento da classificação, mas a
Abert (Associação Brasileira das
Emissoras de TV) conseguiu derrubar a determinação na Justiça.
Mesmo não sendo impositiva,
as redes podem ter problemas legais com classificação. Como não
tem poder de polícia, o Ministério
da Justiça pode encaminhar denúncias contra as TVs ao Ministério Público, que pode acioná-las.
A Abert não se pronunciou sobre as mudanças na classificação
indicativa que estão em gestação
no governo federal nem sobre a
obrigatoriedade do dispositivo
bloqueador de programação.
Emissoras de TV, como a Globo, são a favor do bloqueador.
Mas defendem que a classificação
indicativa não seja exclusividade
do governo, que as próprias emissoras possam decidir o horário
em que exibem seus programas.
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