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Peça expõe a cultura sucateada
DA REPORTAGEM LOCAL
Fauzi Arap, 67, é diretor dos
mais discretos na órbita do teatro
brasileiro. "A vida tem várias caras", diz ele, usando sua boina indefectível.
Conjuga a também discreta face
de dramaturgo com a do encenador em "Chega de História", peça
de 1990, para dois atores, que sofreu poucos retoques na nova
montagem com Tonia Carrero e
Nilton Bicudo, em temporada a
partir de amanhã no teatro Promon, em São Paulo.
O texto, uma comédia, nasceu
sob os escombros do governo
Collor (1990-1992), que ainda não
tinha caído de fato, mas já demolira a cultura de cabo a rabo, nas
palavras de Arap.
Ainda que hoje o cenário não
seja dos mais alentadores. "Não
existe mais cultura, só comércio",
diz o diretor.
Sintomático. Em "Chega de
História", há um grêmio cultural
por fechar. Será demolido. Especulação imobiliária ou que tais.
O diretor do espaço, Eurico (Bicudo), trabalha ali há 15 anos, engrenagem na máquina burocrática. A ação se passa na derradeira
noite de atividades, quando a professora Filomena Terezinha, mais
conhecida por Dona Filó (Carrero), "uma anônima heroína da
educação", é convidada a falar sobre "o papel dos imigrantes na
construção e desenvolvimento
dos valores culturais de nosso
país", como introduz o personagem Eurico.
Críticas
Mal começa a peça, e Dona Filó
diz a que veio: traz a discórdia, a
indignação com os dias de inflação, dívida com FMI, o seu cotidiano de aposentada sem dinheiro etc.
Perplexo, Eurico a interrompe a
todo instante, lembrando que o
assunto é outro e não se pode falar
mal do governo naquele auditório
público, "pero no mucho".
A comédia transcorre assim,
Dona Filó falando pelos cotovelos, Eurico tentando contê-la e, ao
mesmo tempo, expondo sua condição de funcionário público tão
explorado quanto, pai de quatro
filhos.
"É estranha a camisa-de-força
na qual a cultura está metida. Na
verdade, isso sempre existiu, de
uma forma ou de outra, mas tenho a impressão de que hoje em
dia ocorre um paroxismo. A solução talvez seja se embriagar e fazer arte do jeito que dá", afirma
Arap.
Cita exemplos de grupos como
o Oficina, dirigido por José Celso
Martinez Corrêa, no qual atuou
nos anos 60, e o Cemitério de Automóveis, por Mário Bortolotto,
ator que já dirigiu em "Santidade", de José Vicente, e "Kerouac",
de Maurício Arruda Mendonça.
Arap dirigiu Tonia Carrero pela
primeira vez na peça "Navalha na
Carne" (1967), de Plínio Marcos.
É o quarto projeto que os une. O
diretor sabe que, a despeito da entrelinha ideológica de "Chega de
História", o espetáculo é devidamente apropriado pela personalidade da veterana atriz, como se
viu em pré-estréias pelo interior
paulista. Soma pelo menos uma
dúzia de textos para teatro, entre
eles "Pano de Boca" (1975), o primeiro.
(VS)
Chega de História
Onde: Espaço Promon (av. Presidente
Juscelino Kubitschek, 1.830, Itaim Bibi,
tel. 0/xx/11/3847-4111)
Quando: estréia amanhã, às 21h30; sex.,
às 21h30; sáb., às 21h; e dom., às 19h
Quanto: R$ 40 a R$ 50 (sáb.)
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