São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 2005

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COMENTÁRIO

Comediante criava muito humor a partir de pouco, quase nada

MARCELO MADUREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ronald Golias, Carlo Bronco Dinossauro, Professor Bartolomeu Guimarães, o Pacífico. Quanta gente boa morre com Ronald Golias.
Devo a Golias -a quem nunca conheci pessoalmente- aquela "influência" que o pessoal da MPB atribui a João Gilberto. Eu era apenas um menino em Curitiba que aguardava ansioso ao início de "Família Trapo" (1967), na TV Record, onde Golias brilhava protagonizando o bizarro estereótipo de cunhado trapalhão, o Carlo Bronco Dinossauro. Completando a constelação desse programa, estavam Renata Fronzi, Cidinha Campos, Otelo Zeloni, Ricardo Côrte Real e Jô Soares, que personificava o inacreditável mordomo Gordon.
Bons tempos aqueles em que Bronco vivia de favor na casa da irmã, num cubículo em que só cabia a cama. Como garantia de seus permanentes sufocos financeiros, oferecia sua "fazenda" em Mato Grosso, um terreno com dois metros de frente por três de fundo. Um latifúndio. Um latifúndio de humor, de criatividade, de improviso.
Minimalista, ele fazia muito com pouco, quase nada. Uma piscadela, um ataque apoplético inesperado, uma quebrada no rumo da história.
Seu professor Bartolomeu Guimarães, com os seus longos e meditabundos silêncios, a sua sabedoria fingida, é um tipo básico do humor nonsense brasileiro. Golias também personificava, com seu Pacífico, características muito peculiares de um humor bem paulistano, meio italianado, meio acaipirado.
Na "Praça da Alegria" que existe dentro de cada um, o seu bordão-vocativo "Ô, Crideeeeee!!!!!" ainda vai ecoar durante muito tempo. Enquanto humorista, espero modestamente poder honrar o seu legado. Uma lágrima.


Marcelo Madureira é humorista e apresentador do "Casseta & Planeta" (Globo)


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