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COMENTÁRIO
Comediante criava muito humor a partir de pouco, quase nada
MARCELO MADUREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ronald Golias, Carlo Bronco
Dinossauro, Professor Bartolomeu Guimarães, o Pacífico.
Quanta gente boa morre com Ronald Golias.
Devo a Golias -a quem nunca
conheci pessoalmente- aquela
"influência" que o pessoal da
MPB atribui a João Gilberto. Eu
era apenas um menino em Curitiba que aguardava ansioso ao início de "Família Trapo" (1967), na
TV Record, onde Golias brilhava
protagonizando o bizarro estereótipo de cunhado trapalhão, o
Carlo Bronco Dinossauro. Completando a constelação desse programa, estavam Renata Fronzi,
Cidinha Campos, Otelo Zeloni,
Ricardo Côrte Real e Jô Soares,
que personificava o inacreditável
mordomo Gordon.
Bons tempos aqueles em que
Bronco vivia de favor na casa da
irmã, num cubículo em que só cabia a cama. Como garantia de
seus permanentes sufocos financeiros, oferecia sua "fazenda" em
Mato Grosso, um terreno com
dois metros de frente por três de
fundo. Um latifúndio. Um latifúndio de humor, de criatividade,
de improviso.
Minimalista, ele fazia muito
com pouco, quase nada. Uma piscadela, um ataque apoplético
inesperado, uma quebrada no rumo da história.
Seu professor Bartolomeu Guimarães, com os seus longos e meditabundos silêncios, a sua sabedoria fingida, é um tipo básico do
humor nonsense brasileiro. Golias também personificava, com
seu Pacífico, características muito
peculiares de um humor bem
paulistano, meio italianado, meio
acaipirado.
Na "Praça da Alegria" que existe
dentro de cada um, o seu bordão-vocativo "Ô, Crideeeeee!!!!!" ainda vai ecoar durante muito tempo. Enquanto humorista, espero
modestamente poder honrar o
seu legado. Uma lágrima.
Marcelo Madureira é humorista e apresentador do "Casseta & Planeta" (Globo)
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