São Paulo, segunda-feira, 28 de setembro de 2009

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Poeta ganha mostra com textos e receitas

Exposição no Museu da Língua Portuguesa reúne obras de Cora Coralina, que vivia de vender guloseimas

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

"Este nome eu não inventei, existe mesmo", escreveu Carlos Drummond de Andrade, em 1980, sobre a então desconhecida Cora Coralina. Foi aquele artigo, publicado no "Jornal do Brasil", que fez o país prestar atenção na poeta, àquela altura já com mais de 90 anos, nascida na Cidade de Goiás (GO).
Ele estava errado. O nome não existia "mesmo". Tinha sido inventado em 1908 por Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, como pseudônimo para textos que começava a rascunhar. Porque tinha um monte de Anas por ali, e ela não queria ser confundida com ninguém.
Ana, ou Cora Coralina, conheceu cinco anos de fama antes de morrer, em 1985, aos 96. Lançou quatro livros, e o restante teve publicação póstuma. Como foram mais de 80 anos de anotações diárias, material não falta. Cora deixou de versos bucólicos a autocríticas mordazes, como o poema em que diz que era "criança feia, nervosa e triste [...], o retrato vivo do velho doente". (Mais segura de si, escreveria também: "Eu sou a velha mais bonita de Goiás".) Parte desses textos estará, a partir de amanhã, em "Cora Coralina - Coração do Brasil", no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
Será uma mostra pequenina, discreta, no saguão do segundo andar -espaço que foi possível conseguir, em meio à mostra multimídia sobre a língua francesa, para celebrar os 120 anos do nascimento da poeta. "É um espaço nobre, na entrada", ressalva a curadora Júlia Peregrino.
A cenografia, de Daniela Thomas e Felipe Tassara, inclui painéis com imagens que remetem ao universo "coralino", como a raiz e o barro. Uma estrutura central lembra a ponte perto da casa colonial em que a poeta nasceu -onde fica a Casa Cora Coralina. De lá, Júlia trouxe cadernos que permitem ver o processo de criação da autora.
Uma novidade são os cadernos de receitas -Cora sustentou os filhos vendendo guloseimas. "Ela fazia doces glaçados, com essa casquinha fininha de açúcar", delicia-se Júlia. Por ocasião da mostra, será lançado o livro "Cora Coralina -0Doceira e Poeta" (Global, R$ 119, 144 págs.). Há ainda um texto da Folha, de 1966, em que o crítico Péricles da Silva Pinheiro comenta "Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais", primeiro livro de Cora: "Estreia excelente, começando onde muitos talvez se sentiriam compensados em terminar".
A mostra reunirá mais de 50 documentos. Parte do material inédito Júlia conseguiu com Vicência Brêtas Tahan, única filha viva de Cora -que não diz a idade à Folha, sem saber que a cronologia da mostra entregará sua data de nascimento...


CORA CORALINA - CORAÇÃO DO BRASIL

Quando: amanhã a 13/12, 10h às 17h
Onde: Museu da Língua Portuguesa (pça. da Luz, s/nº, Centro, tel. 0/xx/11/ 3326-0075)
Quanto: R$ 6 (grátis p/ menores de dez, maiores de 60 anos e aos sáb.)




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