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Poeta ganha mostra com textos e receitas
Exposição no Museu da Língua Portuguesa reúne obras de Cora Coralina, que vivia de vender guloseimas
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
"Este nome eu não inventei,
existe mesmo", escreveu Carlos Drummond de Andrade, em
1980, sobre a então desconhecida Cora Coralina. Foi aquele
artigo, publicado no "Jornal do
Brasil", que fez o país prestar
atenção na poeta, àquela altura
já com mais de 90 anos, nascida
na Cidade de Goiás (GO).
Ele estava errado. O nome
não existia "mesmo". Tinha sido inventado em 1908 por Ana
Lins dos Guimarães Peixoto
Brêtas, como pseudônimo para
textos que começava a rascunhar. Porque tinha um monte
de Anas por ali, e ela não queria
ser confundida com ninguém.
Ana, ou Cora Coralina, conheceu cinco anos de fama antes de morrer, em 1985, aos 96.
Lançou quatro livros, e o restante teve publicação póstuma.
Como foram mais de 80 anos
de anotações diárias, material
não falta. Cora deixou de versos
bucólicos a autocríticas mordazes, como o poema em que diz
que era "criança feia, nervosa e
triste [...], o retrato vivo do velho doente". (Mais segura de si,
escreveria também: "Eu sou a
velha mais bonita de Goiás".)
Parte desses textos estará, a
partir de amanhã, em "Cora
Coralina - Coração do Brasil",
no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
Será uma
mostra pequenina, discreta, no
saguão do segundo andar -espaço que foi possível conseguir,
em meio à mostra multimídia
sobre a língua francesa, para
celebrar os 120 anos do nascimento da poeta. "É um espaço
nobre, na entrada", ressalva a
curadora Júlia Peregrino.
A cenografia, de Daniela
Thomas e Felipe Tassara, inclui
painéis com imagens que remetem ao universo "coralino", como a raiz e o barro. Uma estrutura central lembra a ponte
perto da casa colonial em que a
poeta nasceu -onde fica a Casa
Cora Coralina. De lá, Júlia trouxe cadernos que permitem ver
o processo de criação da autora.
Uma novidade são os cadernos de receitas -Cora sustentou os filhos vendendo guloseimas. "Ela fazia doces glaçados,
com essa casquinha fininha de
açúcar", delicia-se Júlia. Por
ocasião da mostra, será lançado
o livro "Cora Coralina -0Doceira e Poeta" (Global, R$ 119, 144
págs.). Há ainda um texto da
Folha, de 1966, em que o crítico
Péricles da Silva Pinheiro comenta "Poemas dos Becos de
Goiás e Estórias Mais", primeiro livro de Cora: "Estreia excelente, começando onde muitos
talvez se sentiriam compensados em terminar".
A mostra reunirá mais de 50
documentos. Parte do material
inédito Júlia conseguiu com Vicência Brêtas Tahan, única filha viva de Cora -que não diz a
idade à Folha, sem saber que a
cronologia da mostra entregará
sua data de nascimento...
CORA CORALINA - CORAÇÃO
DO BRASIL
Quando: amanhã a 13/12, 10h às 17h
Onde: Museu da Língua Portuguesa
(pça. da Luz, s/nº, Centro, tel. 0/xx/11/
3326-0075)
Quanto: R$ 6 (grátis p/ menores de
dez, maiores de 60 anos e aos sáb.)
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