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CINEMA/ESTRÉIA
"FUSO HORÁRIO DO AMOR"
Atriz francesa afirma que "os filmes têm funções"
Juliette Binoche defende "transformação amorosa"
DA REPORTAGEM LOCAL
A atriz francesa Juliette Binoche, 39, diz que seus personagens
no cinema sempre sofrem transformações. E é por isso que ela decide interpretá-los, seja em obras
densas como a trilogia das cores,
do polonês Krzysztof Kieslowsk
(1941-96), seja numa despretensiosa comédia romântica como
"Fuso Horário do Amor", de Danièle Thompson, que estréia hoje
em São Paulo e Brasília.
"Sou fascinada pela idéia de que
a vida está em permanente movimento, não pára de se transformar", diz Binoche. No caso da esteticista Rose, seu papel em "Fuso
Horário do Amor", os movimentos são (simultaneamente): de separação de um amor complicado,
de fuga temporária de seu país em
direção a um paraíso caribenho e
de aproximação com um homem
em tudo diferente de seus padrões, feito por Jean Reno.
Binoche diz que foi divertido viver a perua Rose (que não se separa de seu estojo de maquiagem e
abusa dos adereços) e que a personagem lhe trouxe inclusive memórias infantis, de quando vivia
com seu pai e observava, encantada, a companheira dele subir num
salto alto até para fazer caminhadas após o café da manhã.
Isolamento
Premiada com o Oscar de melhor atriz coadjuvante em 1997,
por seu desempenho em "O Paciente Inglês", de Anthony Minghella, Binoche diz que se sente
"isolada" no ambiente artístico
francês.
"Tenho a impressão de que os
atores americanos conseguem viver em comunidade. Na França,
somos mais individualistas. Aqui,
não tenho a sensação de fazer parte de um grupo, o que era meu sonho inicial na profissão", afirma.
Binoche considera que o fato de
"trabalhar muito internacionalmente" pode contribuir para sua
sensação de isolamento em relação aos outros atores franceses.
Mas diz que, se pudesse, "trabalharia em todas as partes".
Terminadas as filmagens de
"Fuso Horário do Amor", ela partiu para a Suíça, onde participou
de um laboratório de interpretação teatral junto com outros atores... norte-americanos.
"A idéia era desenvolver pesquisas de linguagem teatral e fazer
com que cada ator encarasse seus
medos específicos." Quais são os
medos de Binoche: "Cantar, dançar, fazer coisas que não tenho o
hábito de fazer e aquelas que nunca experimentei".
Casada com o também ator Benoît Magimel, conhecido no Brasil por sua atuação ao lado de Isabelle Huppert em "A Professora
de Piano", de Michael Haneke, Binoche diz que, talvez, dirija um filme em parceria com o marido.
Mas diz que é difícil, para uma
pessoa com seu perfil, falar com
segurança sobre seus próximos
projetos. "Tenho dificuldade de
pensar no futuro", diz. A atriz
afirma que, para aceitar um papel,
leva em conta seu "primeiro sentimento ao ler o roteiro e uma espécie de intuição física" em relação à proposta.
Binoche diz que quanto mais
avançou na carreira, mais percebeu que "os filmes têm certas funções" para o público e para quem
os faz. "Tenho mais perguntas do
que respostas, e os filmes me ajudam a formulá-las", diz.
No caso específico de "Fuso Horário do Amor", a função seria
outra, não de indagar, mas de rememorar a todos "o poder transformador do amor".
Binoche filmaria neste ano com
o diretor brasileiro Walter Salles o
longa "The Assumption of the
Virgin". Alterações no cronograma do projeto afastaram ambos
da produção, mas ela diz que não
está descartada a idéia de trabalhar com Salles em outro filme.
(SILVANA ARANTES)
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