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CRÍTICA
Comédia romântica francesa é, também, hollywoodiana
CRÍTICO DA FOLHA
Há uma frase, logo no começo de "Fuso Horário do
Amor", que serve como um álibi
para a cineasta Danièle Thompson: "Todo mundo deveria ter direito ao seu dia de filme americano". Thompson assume que está
importando para a França a comédia romântica hollywoodiana.
São curiosos os franceses: os
mais antiamericanos dos europeus e, também, os mais deslumbrados (pelo menos uma parte
deles) com seu cinema.
Luc Besson e Mathiew Kassovitz, por exemplo, estão entre os
cineastas que fazem um cinema
desejoso de ser americano.
Thompson, pelo menos, segue essa linha, mas com uma opção
mais esperta, ao se apropriar de
um gênero que passa por uma fase paupérrima e pouco criativa.
"Fuso" foi concebido há cerca
de dez anos para ser uma produção americana, mas que nunca
saiu do papel. Thompson reescreveu o roteiro e manteve a situação: um homem e uma mulher se
conhecem no aeroporto, durante
uma greve do serviço público (eis
uma situação plausível e francesa
num filme cheio de implausibilidades e americanismos).
O homem é Félix (Jean Reno),
bem-sucedido chef que hoje vende alimentos industrializados. Ele
está a caminho do enterro do pai
de sua ex-mulher, em Munique.
Ela é Rose (Juliette Binoche), uma
esteticista extravagante, de cabelo
laqueado e cara maquiada, com
passagem para Cancún para esquecer um romance malsucedido. O encontro se dá quando ela
perde o celular -uma extensão
de seu corpo- e, para não surtar,
pede emprestado o de Félix.
Thompson consegue sustentar
bem seu filme concentrando-se
quase totalmente no cenário do
aeroporto e nos personagens, carinhosamente defendidos pelos
atores. Reno está surpreendente,
fazendo um tipo charmoso e frágil, oposto aos brucutus que costuma viver nos filmes de Luc Besson. Binoche está mais surpreendente ainda na pele de uma perua.
Os dois garantem uma diversão
inofensiva, tão melhor que vários
outros similares vindos da fábrica
de ilusões original, Hollywood.
(PEDRO BUTCHER)
Fuso Horário do Amor
Décalage Horaire
Direção: Danièle Thompson
Produção: França/Reino Unido, 2002
Com: Juliette Binoche e Jean Reno
Quando: a partir de hoje, no Anália
Franco 4, Cineclube DirecTV 2 e circuito
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