UOL


São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA/ESTRÉIAS

"AMOR À TODA PROVA"

Comédia romântica gay escorrega e se perde em seu final puritano

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

O cinema hollywoodiano ou diretamente sob o guarda-chuva financeiro de Hollywood é tão prolífico, para o bem e para o mal, que se permite subgêneros inimagináveis em cinematografias menos desenvolvidas.
Assim, há o "heist movie" (ou filme de assalto), o "chick flick" (de mulherzinha), os de julgamento/advogado/júri. E, mais recentemente, o romântico gay. No último caso estão, por exemplo, "A Razão do Meu Afeto" (1998) e "Sobrou para Você" (2000).
Está também este "Amor à Toda Prova", que estréia hoje. O mote é excelente. Mulher de Chicago de meia-idade (Kathy Bates), apaixonada por um cantor inglês mezzo Elvis, mezzo Sinatra (Jonathan Pryce), ídolo das coroas, é abandonada friamente pelo marido entediado (Dan Aykroid).
Ela decide esquecer tudo indo ao show do britânico, que se apresenta em sua cidade. Acontece que antes ele é morto pelo misterioso assassino do arco-e-flecha.
A fã larga família e amigos e parte para a Inglaterra, para o enterro. Lá, descobre que o músico era gay e casado havia anos com um ex-empregado (Rupert Everett). Juntos, a ex-fã e o ex-amante combinam de voltar a Chicago e achar o assassino de seu amado.
De quebra, devem enfrentar a (hilariante) família do falecido, da sociedade britânica tradicional, que nunca aceitou a homossexualidade do parente e, falida, está de olho nas propriedades dele.
Tudo é muito engraçado na primeira metade do filme, que segue à risca o receituário do subgênero, com direito a participações especiais de ícones gays (Julie Andrews, Barry Manilow), vários sing-a-long (grupos de pessoas cantando juntos clássicos bregas) e personagens secundários estranhos (como a anã que é nora e melhor amiga de Kathy Bates).
Mas se perde no final de maneira fragorosa. Era de esperar mais do diretor, o australiano P.J. Hogan, do ótimo "O Casamento de Muriel" (1994) e do até que palatável "O Casamento de Meu Melhor Amigo" (1997).
Já cego pelo brilho dos dólares, Hogan se deixa levar pelo pior da moral puritana que domina o cinemão (e a sociedade) norte-americano, segundo a qual ao clímax deve se seguir uma conclusão em que todos os pecados são lavados e expiados publicamente.
Assim, os pequenos (a dona-de-casa, a anã e o gay) se unem para enfrentar o poderoso (o assassino) e com isso alcançar a fama e, com ela, o sucesso pessoal e profissional. Óbvio que todos terminam num programa de auditório.
Ali, remendam seus erros e terminam cantando. Capaz de você derrubar uma lágrima nessa hora. De raiva, não de alegria.


Amor à Toda Prova
Unconditional Love
  
Direção: P.J. Hogan
Produção: EUA, 2002
Com: Kathy Bates e Rupert Everett
Quando: a partir de hoje nos cines Paulista, Iguatemi e circuito


Texto Anterior: "Um Passaporte Húngaro" reflete saga familiar
Próximo Texto: "Albergue Espanhol": Diálogos superficiais exemplificam a situação atual do cinema francês
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.