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"ALBERGUE ESPANHOL"
Diálogos superficiais exemplificam a situação atual do cinema francês
CRÍTICO DA FOLHA
Na Idade Média espanhola,
peregrinando pelo famoso
"caminho de Compostela", os devotos de são Tiago encontravam
descanso em albergues para onde
levavam suas próprias provisões e
animais. Vem daí, ao que parece,
a expressão "albergue espanhol",
figura de estilo que designa
abrangência de tendências e
alianças.
No caso do filme de Cédric Kaplisch, o albergue espanhol que
lhe dá título é uma república de
estudantes em Barcelona em que
cada morador tem uma nacionalidade européia. Seguindo um
programa de intercâmbio, decidido a se especializar em economia
espanhola para assegurar um emprego, o protagonista francês, Xavier (Romain Duris), vai parar
nessa babel eurocêntrica.
Kaplisch ("O Gato Sumiu") segue passo a passo, um tanto didaticamente, a aventura de seu protagonista no estrangeiro e se dedica de tal maneira à identidade que
pretende criar entre este e o público juvenil que acaba por negligenciar o que seria o tema central de
"Albergue Espanhol", o aprendizado da diferença. O diretor simplesmente se esquece de nos dar a
conhecer os demais personagens
da república. Tenta suplantar velhos estereótipos (do tipo: as inglesas são neuróticas, os alemães
organizados), mas acaba neles recaindo, tal a superficialidade das
conversas que se estabelecem em
seu "albergue".
A presença de Judith Godrèche
no elenco, ela que debutou tão falante no filme de Jacques Doillon,
"A Moça de 15 Anos", fazendo
agora o papel de uma mulher reprimida com quem Xavier tem
um caso, nos lembra dos tempos
em que as conversas, nos filmes
franceses, aconteciam de fato.
Tempos da última grande geração
do cinema francês, a dos anos 70,
geração de Jean Eustache, Philippe Garrel e Jacques Doillon, pós-nouvelle vague e pós-cinema-verdade, quando os franceses se dedicaram, mais livremente do que
nunca, a filmar a fala.
A afetividade e a espontaneidade de um filme como "La Maman
et la Putain" (Eustache, 1973) é
um ideal que as gerações posteriores do cinema francês estiveram sempre longe de alcançar. A
diferença da geração de Kaplisch
para a de Eustache está um pouco
na diferença entre Xavier e sua
mãe hippie.
Filho careta, Xavier não suporta
conversar com a mãe porque esta
sempre fala a verdade. No estrangeiro, o jovem abre um pouco a
cabeça, torna-se menos reprimido e menos conformista, ao menos na perspectiva, sempre um
tanto limitada, quando não equivocada, de Kaplisch.
(TIAGO MATA MACHADO)
Albergue Espanhol
L'Auberge Espagnole
Direção: Cédric Klapisch
Produção: França/Espanha, 2003
Com: Romain Duris, Judith Godrèche, Audrey Tautou
Quando: a parir de hojes nos cines
Espaço Unibanco, Frei Caneca Unibanco
Arteplex e Sala UOL de Cinema
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