São Paulo, segunda-feira, 28 de novembro de 2005

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CRÍTICA

Iggy faz Rock!, em maiúscula e com exclamação

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não importa o quanto você tivesse ouvido compulsivamente os primeiros discos dos Stooges e entendesse a força primal de sua música, não importa o quanto você tivesse lido sobre o frenesi dos shows de Iggy Pop ou o quanto soubesse que ele inventou o punk dez anos antes do punk, no fim da década de 60, com um par de discos ao lado dos Stooges. Simplesmente nada poderia te preparar para o que foi o show de Iggy & the Stooges na madrugada de ontem, espremido entre a psicodelia do Flaming Lips e a experimentação pop do Sonic Youth.
Como prometido, não houve nada de "Candy", "Lust for Life" ou "The Passenger". Só músicas dos Stooges, e só músicas dos dois primeiros álbuns dos Stooges (os essenciais "The Stooges", 1969, e "Fun House", 1970). Nem o terceiro, "Raw Power" (1973), teve chance. Ou seja, nem "Search and Destroy" apareceu. Em compensação, "I Wanna Be Your Dog", "No Fun", "TV Eye", "1969", "Dirt" foram tocadas como se os hippies ainda caminhassem sobre a Terra. (Apareceram, sim, duas novas, compostas em 2003, quando do reencontro de Iggy com sua antiga banda, registradas no disco "Skull Ring".)
"We are the fucking Stooges", soltou Iggy logo no começo. Em menos de três músicas, ele já se jogou entre os fotógrafos, rebolou, subiu no amplificador encenando movimentos sexuais, rolou no chão, se atirou no público, falou impropérios e cantou como se tivesse 40 anos a menos que os seus 58. Até o fim do show, não diminuiu o ritmo nem por um momento. Andava de um lado para o outro, para cima e para baixo, no palco e fora dele, e levava consigo todos os olhares e ouvidos. Atrás dele, Ron Asheton tirava sons rasgados e sujos da guitarra, enquanto seu irmão Scott Asheton espancava a bateria, e o novo baixista Mike Watt não fazia feio.
Com seu visual tradicional, de cabelo comprido, calça baixa, sem camisa e com toda sua magreza, Iggy entrava em transe na explosão de espontaneidade que ditava cada segundo em que estava sobre o palco. Lá pelo meio do show, no meio de uma música, instaurou um caos memorável, convidando o público a invadir o palco, atendido por um bom número de fãs empolgados, que se dividiam entre arrumar confusão com os seguranças ou se amontoar ao redor do cantor.
Foi um show, pura e simplesmente, de Rock!, assim, em maiúscula e com exclamação. Porque o rock, afinal, é feito de clichês. E muitos deles foram inventados por Iggy, mais de 35 anos atrás. Se parece habitual ler em uma crítica hoje que o show foi "cru", "sujo" e "direto", é porque Iggy estava lá e fez isso antes. E ele repetiu tudo, melhor do que nunca, ali, naquele palco, naquele momento. Por um bom tempo, vai ter bem menos graça ver qualquer outro show de rock. Avaliação:     

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