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CRÍTICA
Iggy faz Rock!, em maiúscula e com exclamação
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não importa o quanto você
tivesse ouvido compulsivamente os primeiros discos dos
Stooges e entendesse a força primal de sua música, não importa o
quanto você tivesse lido sobre o
frenesi dos shows de Iggy Pop ou
o quanto soubesse que ele inventou o punk dez anos antes do
punk, no fim da década de 60,
com um par de discos ao lado dos
Stooges. Simplesmente nada poderia te preparar para o que foi o
show de Iggy & the Stooges na
madrugada de ontem, espremido
entre a psicodelia do Flaming Lips
e a experimentação pop do Sonic
Youth.
Como prometido, não houve
nada de "Candy", "Lust for Life"
ou "The Passenger". Só músicas
dos Stooges, e só músicas dos dois
primeiros álbuns dos Stooges (os
essenciais "The Stooges", 1969, e
"Fun House", 1970). Nem o terceiro, "Raw Power" (1973), teve
chance. Ou seja, nem "Search and
Destroy" apareceu. Em compensação, "I Wanna Be Your Dog",
"No Fun", "TV Eye", "1969",
"Dirt" foram tocadas como se os
hippies ainda caminhassem sobre
a Terra. (Apareceram, sim, duas
novas, compostas em 2003, quando do reencontro de Iggy com sua
antiga banda, registradas no disco
"Skull Ring".)
"We are the fucking Stooges",
soltou Iggy logo no começo. Em
menos de três músicas, ele já se jogou entre os fotógrafos, rebolou,
subiu no amplificador encenando
movimentos sexuais, rolou no
chão, se atirou no público, falou
impropérios e cantou como se tivesse 40 anos a menos que os seus
58. Até o fim do show, não diminuiu o ritmo nem por um momento. Andava de um lado para o
outro, para cima e para baixo, no
palco e fora dele, e levava consigo
todos os olhares e ouvidos. Atrás
dele, Ron Asheton tirava sons rasgados e sujos da guitarra, enquanto seu irmão Scott Asheton espancava a bateria, e o novo baixista
Mike Watt não fazia feio.
Com seu visual tradicional, de
cabelo comprido, calça baixa, sem
camisa e com toda sua magreza,
Iggy entrava em transe na explosão de espontaneidade que ditava
cada segundo em que estava sobre o palco. Lá pelo meio do show,
no meio de uma música, instaurou um caos memorável, convidando o público a invadir o palco,
atendido por um bom número de
fãs empolgados, que se dividiam
entre arrumar confusão com os
seguranças ou se amontoar ao redor do cantor.
Foi um show, pura e simplesmente, de Rock!, assim, em
maiúscula e com exclamação.
Porque o rock, afinal, é feito de
clichês. E muitos deles foram inventados por Iggy, mais de 35
anos atrás. Se parece habitual ler
em uma crítica hoje que o show
foi "cru", "sujo" e "direto", é porque Iggy estava lá e fez isso antes.
E ele repetiu tudo, melhor do que
nunca, ali, naquele palco, naquele
momento. Por um bom tempo,
vai ter bem menos graça ver qualquer outro show de rock.
Avaliação:
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