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Comida
Tem sorvete na comida
Sorvete incorpora ingredientes salgados ou agridoces e vai parar na entrada e no prato principal; veja onde provar
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Guacamole virou sorvete. Vinagre balsâmico e queijo de cabra também. Nem a bottarga
-as ovas da tainha desidratadas- escapou do congelador.
De sobremesa, docinho e refrescante, o sorvete incorporou
ingredientes salgados ou agridoces, passou à entrada e foi
parar até no prato principal. E
ideia de sabor é o que não falta.
"Eu brinco que, se é comestível, dá para fazer sorvete", diz
Paula Saracchi, da Arte Gelati,
que acaba de desenvolver uma
linha de sorvetes salgados para
a Sorelle Puccini, loja de chocolates na Vila Madalena que tem
investido agora nos gelados.
Vendidos em potes de meio
litro, os sorvetes de parmesão,
gorgonzola, vinagre balsâmico,
shoyu com gengibre e azeite de
oliva com manjericão são recomendados pela proprietária,
Rosely Puccini, como acompanhamento de saladas e de pratos frios ou como canapê.
Quem leva os sorvetes para
casa recebe junto dicas de como servi-los: o de shoyu vai
bem com salmão grelhado, o de
parmesão pode ser colocado
sobre uma folha de endívia.
"Não é para tomar como se fosse sorvete doce, porque é mais
enjoativo. Mas como canapé,
com torradas, fica bom", diz.
Teste de aceitação
No Identità Golose, um congresso italiano de cozinha de
autor que acontece em Milão a
partir deste domingo, os sorvetes "não-doces" são o foco da
apresentação da brasileira Renata Braune, do Chef Rouge.
"Não é exatamente um sorvete salgado, mas um sorvete
para a cozinha salgada, em que
o doce pode estar presente, mas
em segundo plano", diz a chef,
reforçando que o açúcar é necessário para dar estrutura e
não deixar o sorvete cristalizar.
A resistência dos clientes é o
principal temor na hora de decidir se os sorvetes vão, ou não,
para o cardápio. Os três sabores
mostrados na Itália -queijo de
cabra com manjericão; cerveja
com café e chutney de goiaba-
vão aparecer no restaurante
paulistano, mas, ao menos por
enquanto, de maneira discreta.
"É difícil vender. As pessoas
se surpreendem muito com o
sabor. No começo, vão à mesa
como uma oferta da casa, na
forma de um "amuse-bouche"."
No Boa Bistrô, a chef Tatiana
Szeles está testando gelados de
guacamole (servido com salmão defumado), de bottarga
(com broto de coentro) e de roquefort com wasabi (com salada de brotos de beterraba).
"Tem algumas coisas que eu
faço e deixo quietas na geladeira. Vou dando para os conhecidos, para quem gosta de comer,
ou para quem pergunta se tem
algo diferente", diz Szeles. "Há
uma resistência pelo fato de ser
um sorvete salgado. Outro dia,
vieram uns amigos aqui, e eu
ofereci o de guacamole. E todo
mundo: "Ai, guacamole?" É preconceito, falta de costume.
Tem super a ver com o verão."
E quem quiser provar? "Não
tem no cardápio, mas está guardado no freezer, é só pedir."
Refresco para a boca
Quando colocou pela primeira vez no cardápio do carioca
Eça uma entrada de atum marinado com sorvete de rúcula e
queijo de cabra, o chef Frédéric
de Maeyer se surpreendeu com
a aceitação. "Faz muito calor no
Brasil, e isso refresca a boca",
afirma o francês. "Coloco como
sugestão do dia. Já fiz também
de aspargos com parmesão e
trufa, para acompanhar o salmão defumado, e um de beterraba com queijo de cabra."
Agora que Maeyer tem um
Pacojet, máquina que faz sorvetes e granitas, ficou bem mais
fácil. "Antes, eu tinha que pedir
para um fornecedor fazer. Agora faço o sabor que quiser."
Mas mesmo quem não tem
máquina de sorvete pode se
aventurar em casa. O chef Claude Troisgros, do Olympe, oferece às vezes no menu-confiança
um sorvete salgado de wasabi
com azeite, que, segundo ele, é
"uma maionese congelada" que
não passa pela máquina. "Agora
tem que tomar cuidado com o
sorvete salgado, porque pode
virar uma coisa incomível. Já
provei um de ostra que não dava para comer, de tão ruim.
Tem que ser bem dosado, não
pode ser o produto principal."
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