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ARTES
Exposição com mais de cem obras recupera o conjunto da pintura do ítalo-brasileiro, sucesso de público no século 19
Paisagens de Facchinetti têm "panorâmica"
Divulgação
"Marinha", pintura de Facchinetti de 1877, em exposição no Rio
ANA PAULA CONDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO
A carreira de Nicolau Facchinetti (1824-1900), um dos principais
pintores do Brasil no século 19, foi
marcada pela dualidade: adorada
pelo público, sua obra não era
muito bem vista pela crítica.
"Ele era acusado de priorizar a
realidade em detrimento da expressão. Hoje, sabemos que o pintor não retratava exatamente o
que via. Suas paisagens eram
construídas no ateliê. Essa era a
emoção dele, mas os críticos da
época não o entendiam", afirma o
artista plástico e museólogo Carlos Martins, responsável, com a
historiadora Valéria Piccoli, pela
curadoria da exposição "Facchinetti", que será aberta hoje à noite
no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no centro do Rio.
A mostra, que reúne 106 obras,
oriundas de 27 coleções particulares e de oito instituições, é a primeira a apresentar uma visão de
conjunto da produção do artista.
Nascido na Itália, o pintor desembarcou no país em 1849, aos
25 anos, e desenvolveu seu trabalho à margem da Academia Nacional de Belas Artes, que ditava
as regras no século 19.
O curador explica que a maior
contribuição do artista à pintura
brasileira foi ter adaptado à paisagem nacional as normas do "vedutismo", estilo criado na Itália
no fim do século 18, para atender
os turistas. "Esse tipo de pintura,
que era vendida como suvenir, caracteriza-se pelo pequeno formato, pelo panorama, pelo detalhismo e pelo precioso acabamento. É
uma visão idealizada", diz.
Foram justamente esses traços
que conquistaram os nobres e os
barões do café. Todos queriam ter
suas propriedades retratadas por
Facchinetti. Assim, o artista era
um dos raros de sua época que vivia exclusivamente da pintura.
Facchinetti se dedicou à produção de retratos no início da carreira, mas a curadoria optou por
priorizar a paisagem, a porção
mais significativa de sua obra.
A mostra é dividida por módulos dedicados a cada um dos locais registrados pelo pintor, como
as cidades de Niterói, Petrópolis e
Teresópolis, no Estado do Rio, a
ilha de Paquetá (baía de Guanabara) e São Tomé das Letras (MG).
Os quadros com paisagens cariocas ocupam uma sala inteira.
A mostra é fruto de um amplo
processo de pesquisa. Os curadores pretendem realizar outras
mostras individuais sobre pintores do período. "Não há trabalhos
específicos sobre os artistas do século 19. As mostras com obras da
época costumam ser coletivas."
A exposição deve acontecer somente no Rio. Não está prevista
sua exibição em outra cidades que
também tem unidades do CCBB,
como São Paulo e Brasília.
FACCHINETTI. Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66,
Centro, Rio, tel. 0/xx/21/3808-2020).
Quando: hoje, às 19h30 (para
convidados); de ter. a dom., das 10h às
21h. Até 6/6.
Quanto: grátis
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