São Paulo, segunda-feira, 29 de março de 2004

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ARTES

Exposição com mais de cem obras recupera o conjunto da pintura do ítalo-brasileiro, sucesso de público no século 19

Paisagens de Facchinetti têm "panorâmica"

Divulgação "Marinha", pintura de Facchinetti de 1877, em exposição no Rio ANA PAULA CONDE
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A carreira de Nicolau Facchinetti (1824-1900), um dos principais pintores do Brasil no século 19, foi marcada pela dualidade: adorada pelo público, sua obra não era muito bem vista pela crítica.
"Ele era acusado de priorizar a realidade em detrimento da expressão. Hoje, sabemos que o pintor não retratava exatamente o que via. Suas paisagens eram construídas no ateliê. Essa era a emoção dele, mas os críticos da época não o entendiam", afirma o artista plástico e museólogo Carlos Martins, responsável, com a historiadora Valéria Piccoli, pela curadoria da exposição "Facchinetti", que será aberta hoje à noite no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no centro do Rio.
A mostra, que reúne 106 obras, oriundas de 27 coleções particulares e de oito instituições, é a primeira a apresentar uma visão de conjunto da produção do artista.
Nascido na Itália, o pintor desembarcou no país em 1849, aos 25 anos, e desenvolveu seu trabalho à margem da Academia Nacional de Belas Artes, que ditava as regras no século 19.
O curador explica que a maior contribuição do artista à pintura brasileira foi ter adaptado à paisagem nacional as normas do "vedutismo", estilo criado na Itália no fim do século 18, para atender os turistas. "Esse tipo de pintura, que era vendida como suvenir, caracteriza-se pelo pequeno formato, pelo panorama, pelo detalhismo e pelo precioso acabamento. É uma visão idealizada", diz.
Foram justamente esses traços que conquistaram os nobres e os barões do café. Todos queriam ter suas propriedades retratadas por Facchinetti. Assim, o artista era um dos raros de sua época que vivia exclusivamente da pintura.
Facchinetti se dedicou à produção de retratos no início da carreira, mas a curadoria optou por priorizar a paisagem, a porção mais significativa de sua obra.
A mostra é dividida por módulos dedicados a cada um dos locais registrados pelo pintor, como as cidades de Niterói, Petrópolis e Teresópolis, no Estado do Rio, a ilha de Paquetá (baía de Guanabara) e São Tomé das Letras (MG). Os quadros com paisagens cariocas ocupam uma sala inteira.
A mostra é fruto de um amplo processo de pesquisa. Os curadores pretendem realizar outras mostras individuais sobre pintores do período. "Não há trabalhos específicos sobre os artistas do século 19. As mostras com obras da época costumam ser coletivas."
A exposição deve acontecer somente no Rio. Não está prevista sua exibição em outra cidades que também tem unidades do CCBB, como São Paulo e Brasília.


FACCHINETTI. Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66, Centro, Rio, tel. 0/xx/21/3808-2020).
Quando: hoje, às 19h30 (para convidados); de ter. a dom., das 10h às 21h. Até 6/6.
Quanto: grátis




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