São Paulo, sábado, 29 de março de 2008

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Obra descreve coronelismo de dirigentes

DE PEQUIM

A polêmica causada pelo livro em 2004 ajudou a se debater a urgência de serem melhoradas as condições do homem do campo na China. Tentar construir uma sociedade menos injusta é a promessa preferida do presidente Hu Jintao.
Mas trechos do livro que focam demais na pesada carga tributária em cima dos camponeses já ficaram datados -o governo de Hu e do premiê Wen Jiabao acabou em 2005 com o principal imposto agrícola, que existia há 2.600 anos.
O que não deixa o livro obsoleto é o tipo de coronelismo exercido pelos dirigentes locais no interiorzão do país, onde ditam o que é lei. No atual boom imobiliário chinês, são comuns as histórias de prefeitos que simplesmente expulsam centenas de pequenos agricultores de uma área para vendê-la a especuladores para a construção de shoppings, aeroportos e de estradas. Em vários casos, até o dinheiro da indenização é tragado pela burocracia local.
Quanto à falta de representatividade política do campo no parlamento, sublinhada em "O Segredo Chinês", pela primeira vez, no início de março, três migrantes rurais foram nomeados deputados do Congresso Nacional do Povo. Apesar de o parlamento apenas referendar o que é decidido previamente pela cúpula do Partido Comunista, foi um sinal de que o governo reconhece os 200 milhões de retirantes rurais que subsistem nas grandes cidades.
"É um avanço, mas como esses deputados foram escolhidos? Que representatividade têm? São uma parcela mínima, e ninguém sabe o que pode mudar com eles", diz Chen.
Apesar do aumento da burocracia nos últimos anos, os serviços sociais no país encolheram. Na transição para a economia de mercado, saúde e educação passaram a ser cobradas. Uma doença mais séria é motivo para desespero entre as famílias rurais chinesas, que precisam pagar caro por uma internação mesmo em hospitais públicos. A renda média urbana é de US$ 1.941 (cerca de R$ 3.367). A rural, US$ 583 (cerca de R$ 1.011).
Os autores foram alvos de alguns processos, movidos por burocratas atingidos pelo livro, mas uma grande mobilização a favor deles pesou para que não fossem presos. Eles continuam vivendo em Anhui. (RJL)


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