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Crítica/"Conversas com Billy Wilder"
Documentário é uma aula de cinema de Billy Wilder
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Entre os (poucos) discursos antológicos do Oscar está o do espanhol
Fernando Trueba: "Gostaria de
acreditar em Deus para agradecê-lo, mas, como não acredito...
obrigado, Billy Wilder!", disse
Trueba, logo depois de receber
o prêmio de melhor filme estrangeiro de 1992, pela comédia romântica "Sedução".
Foi justo, justíssimo. Wilder,
que morreu dez anos depois,
aos 95 anos, é autor de uma
obra de gênio, que combina rara versatilidade e poucos tropeços. Ainda em plena forma, aos
83 anos, o autor de "Quanto
Mais Quente Melhor" concedeu uma entrevista ao cineasta
alemão Volker Schlondörff, resumida nos 71 minutos de
"Conversas com Billy Wilder".
Samuel Wilder nasceu em
1906, em uma pequena cidade
do império austro-húngaro,
mas passou a maior parte da
sua juventude na fervescente
Berlim dos anos 20. Em 1933,
escapou da ascensão nazista e
foi para os EUA, onde arrumou
emprego como roteirista.
Alternando o inglês e o alemão, Wilder devaneia sobre a
arte do roteiro e da direção cinematográfica contando detalhes da fabricação de filmes. A
paixão por Ernst Lubitsch, com
quem trabalhou, se traduz em
um depoimento emocionado e
em uma frase emoldurada e
pendurada na parede de seu escritório: "How would Lubitsch
do it?" (Como Lubitsch faria isso?).
Em um dos momentos mais
interessantes, Schlondörff intercala um diálogo de "Quanto
Mais Quente Melhor", lido por
Wilder, à cena do filme, interpretada por Tony Curtis e Jack
Lemmon. Pouco depois, descreve a dificuldade para encontrar uma frase que fechasse o
filme. Um de seus principais
parceiros, I.A.L. Diamond, veio
com a idéia do "Ninguém é perfeito", mas "nenhum de nós se
entusiasmou muito", confessa
o diretor. "Acabamos ficando
com ela por falta uma idéia melhor." Hoje, a frase é considerada uma das melhores tiradas da
história do cinema.
Apesar de ter resistido por
anos ao assédio da entrevista,
Wilder se mostra totalmente à
vontade diante da câmera. Segundo Schlondörff, o diretor
pediu que o material só fosse
revelado após sua morte, mas
depois desistiu da exigência. Na
edição final não há revelações
bombásticas, apenas uma incrível aula de cinema. Mesmo
as críticas a Raymond Chandler ("não sabia nada de roteiro") e a Marilyn Monroe (que
não decorava suas falas) são, na
verdade, bastante conhecidas, e
ainda assim, são ditas com extrema elegância.
CONVERSAS COM BILLY WILDER
Direção: Volker Schlondörff e Gisela Grishow
Produção: EUA, 2003
Quando: no Rio, hoje, às 16h, no Unibanco Arteplex; e dia 3/4, às 12h30, no CCBB
Avaliação: ótimo
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