São Paulo, sábado, 29 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"Conversas com Billy Wilder"

Documentário é uma aula de cinema de Billy Wilder

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Entre os (poucos) discursos antológicos do Oscar está o do espanhol Fernando Trueba: "Gostaria de acreditar em Deus para agradecê-lo, mas, como não acredito... obrigado, Billy Wilder!", disse Trueba, logo depois de receber o prêmio de melhor filme estrangeiro de 1992, pela comédia romântica "Sedução".
Foi justo, justíssimo. Wilder, que morreu dez anos depois, aos 95 anos, é autor de uma obra de gênio, que combina rara versatilidade e poucos tropeços. Ainda em plena forma, aos 83 anos, o autor de "Quanto Mais Quente Melhor" concedeu uma entrevista ao cineasta alemão Volker Schlondörff, resumida nos 71 minutos de "Conversas com Billy Wilder".
Samuel Wilder nasceu em 1906, em uma pequena cidade do império austro-húngaro, mas passou a maior parte da sua juventude na fervescente Berlim dos anos 20. Em 1933, escapou da ascensão nazista e foi para os EUA, onde arrumou emprego como roteirista.
Alternando o inglês e o alemão, Wilder devaneia sobre a arte do roteiro e da direção cinematográfica contando detalhes da fabricação de filmes. A paixão por Ernst Lubitsch, com quem trabalhou, se traduz em um depoimento emocionado e em uma frase emoldurada e pendurada na parede de seu escritório: "How would Lubitsch do it?" (Como Lubitsch faria isso?).
Em um dos momentos mais interessantes, Schlondörff intercala um diálogo de "Quanto Mais Quente Melhor", lido por Wilder, à cena do filme, interpretada por Tony Curtis e Jack Lemmon. Pouco depois, descreve a dificuldade para encontrar uma frase que fechasse o filme. Um de seus principais parceiros, I.A.L. Diamond, veio com a idéia do "Ninguém é perfeito", mas "nenhum de nós se entusiasmou muito", confessa o diretor. "Acabamos ficando com ela por falta uma idéia melhor." Hoje, a frase é considerada uma das melhores tiradas da história do cinema.
Apesar de ter resistido por anos ao assédio da entrevista, Wilder se mostra totalmente à vontade diante da câmera. Segundo Schlondörff, o diretor pediu que o material só fosse revelado após sua morte, mas depois desistiu da exigência. Na edição final não há revelações bombásticas, apenas uma incrível aula de cinema. Mesmo as críticas a Raymond Chandler ("não sabia nada de roteiro") e a Marilyn Monroe (que não decorava suas falas) são, na verdade, bastante conhecidas, e ainda assim, são ditas com extrema elegância.


CONVERSAS COM BILLY WILDER
Direção:
Volker Schlondörff e Gisela Grishow
Produção: EUA, 2003
Quando: no Rio, hoje, às 16h, no Unibanco Arteplex; e dia 3/4, às 12h30, no CCBB
Avaliação: ótimo


Texto Anterior: É Tudo Verdade traz brasileiros "veteranos"
Próximo Texto: SP ouve inéditas de Itamar Assumpção
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.