RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

O jeito de falar faz imaginar que Renata Rosa nasceu em Pernambuco, onde vive há oito anos e aprendeu a tocar rabeca. Paulistana, nascida no Brás, ela justifica: "A idéia que as pessoas têm do Brás é a de um bairro espanhol, italiano, mas foi um grande destino de nordestinos que chegaram a São Paulo nos anos 50. Cresci em meio à cantoria de viola, ao repente".
Tal contato incentivou Rosa a mergulhar na cultura da região. Antes de se embrenhar na zona da mata pernambucana -onde conheceu o maracatu e o cavalo-marinho que alimentaram seu primeiro CD, "Zunido da Mata", bastante divulgado na Europa-, ela passou temporadas no baixo São Francisco, local em que aprendeu polifonias vocais indígenas e foi apresentada ao samba-de-coco.
O encontro de influências resultou em "Manto dos Sonhos" (independente; R$ 20), que a cantora e rabequeira, 34, lança hoje, no Sesc Pompéia -com participação de índias kariri-xocó e de seu mestre na rabeca Luiz Paixão- e amanhã, em curto show na Livraria da Vila.
"Manto" ganhou contornos inesperados durante sua elaboração. O principal foi a participação na série "A Pedra do Reino" (2006), a convite do diretor Luiz Fernando Carvalho, que viu em Rosa uma Maria Safira perfeita para seduzir o personagem Quaderna na versão global da obra de Ariano Suassuna.
"A "Pedra" foi algo denso, saí transformada. As canções ficavam ressonando em mim, e acabei tornando um dos coros [com versos de Suassuna] em música." No CD, "Marcha do Donzel" tem participação de Siba numa das rabecas.
Outra faixa, "Maria Eleonor", uma ciranda com toques de música cigana, tocada com o Quarteto de Cordas da Cidade de SP, foi também "impregnada" pela personagem.
"A Safira era provocante. Durante as preparações, fiz trabalhos de vocalização para chamar o Quaderna [Irandhir Santos], porque ela falava pouco, se expressava muito pelo corpo e pelo olhar. Acabei levando para o meu canto", afirma.