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Briga de egos
Desavenças entre autores e diretores de núcleo expõem momento crítico por que passa o modelo de produção de novelas da Globo
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
O modelo de produção de novelas da Globo, um dos mais
bem sucedidos do mundo, vive
um momento crítico. Baseado
na parceria entre autor e diretor de núcleo, o sistema sofre
com o conflito de egos e desavenças cada vez mais freqüentes entre essas duas figuras fundamentais nos bastidores das
novelas. O diretor de núcleo comanda uma equipe que grava
as cenas idealizadas pelo autor.
Reservadamente, autores da
emissora afirmam que os diretores de núcleo têm poder demais e que alguns mexem em
seus textos, sem dar satisfações. O ideal, para eles, seria
uma divisão mais equilibrada.
Depois do confronto entre a
autora Glória Perez e o diretor
Jayme Monjardim, que foi
afastado do comando da novela
"América", em 2005, o Projac
(central de estúdios da Globo)
foi cenário de um novo conflito,
desta vez entre o autor Carlos
Lombardi e o diretor Ricardo
Waddington, em "Pé na Jaca".
A crise só veio à tona agora.
Lombardi e Waddington, que
discordaram, logo de início, da
escalação de um diretor, deixaram de se falar por volta do capítulo 70.
Lombardi pediu à direção da
Globo para não escrever mais
novelas, apenas minisséries e
seriados. A "briga" entre Glória
Perez e Jayme Monjardim
também trouxe conseqüências.
A novelista só renovou seu contrato, no final do ano passado,
após a rede aceitar uma cláusula em que ela não se submete a
diretores de núcleo.
Alguns profissionais dizem
sentir falta da figura do produtor-executivo, o homem-forte
das séries americanas. Esse papel, até dez anos atrás, teria sido desempenhado por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o
Boni, que intervinha nas crises
entre autores e diretores.
É verdade que o modelo americano também não é imune a
crises de egos. Para o diretor
Ricardo Waddington, a figura
do produtor-executivo é secundária. "Não existe um modelo
ideal. Existem talentos que se
juntam para fazer coisas boas.
Algumas dessas uniões são duradouras, outras não", afirma.
O autor Aguinaldo Silva ("Senhora do Destino"), que já teve
atritos com diretores de duas
novelas suas, diz que o "importante é que todos ponham seus
egos de lado e não percam de
vista o fato de que novela é trabalho de equipe, e que quem
manda é a emissora".
A Globo não quis se pronunciar, por se tratar de assunto
"estratégico" e "interno".
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