São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007

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Briga de egos

Desavenças entre autores e diretores de núcleo expõem momento crítico por que passa o modelo de produção de novelas da Globo

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

O modelo de produção de novelas da Globo, um dos mais bem sucedidos do mundo, vive um momento crítico. Baseado na parceria entre autor e diretor de núcleo, o sistema sofre com o conflito de egos e desavenças cada vez mais freqüentes entre essas duas figuras fundamentais nos bastidores das novelas. O diretor de núcleo comanda uma equipe que grava as cenas idealizadas pelo autor.
Reservadamente, autores da emissora afirmam que os diretores de núcleo têm poder demais e que alguns mexem em seus textos, sem dar satisfações. O ideal, para eles, seria uma divisão mais equilibrada.
Depois do confronto entre a autora Glória Perez e o diretor Jayme Monjardim, que foi afastado do comando da novela "América", em 2005, o Projac (central de estúdios da Globo) foi cenário de um novo conflito, desta vez entre o autor Carlos Lombardi e o diretor Ricardo Waddington, em "Pé na Jaca".
A crise só veio à tona agora. Lombardi e Waddington, que discordaram, logo de início, da escalação de um diretor, deixaram de se falar por volta do capítulo 70.
Lombardi pediu à direção da Globo para não escrever mais novelas, apenas minisséries e seriados. A "briga" entre Glória Perez e Jayme Monjardim também trouxe conseqüências. A novelista só renovou seu contrato, no final do ano passado, após a rede aceitar uma cláusula em que ela não se submete a diretores de núcleo.
Alguns profissionais dizem sentir falta da figura do produtor-executivo, o homem-forte das séries americanas. Esse papel, até dez anos atrás, teria sido desempenhado por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que intervinha nas crises entre autores e diretores.
É verdade que o modelo americano também não é imune a crises de egos. Para o diretor Ricardo Waddington, a figura do produtor-executivo é secundária. "Não existe um modelo ideal. Existem talentos que se juntam para fazer coisas boas. Algumas dessas uniões são duradouras, outras não", afirma.
O autor Aguinaldo Silva ("Senhora do Destino"), que já teve atritos com diretores de duas novelas suas, diz que o "importante é que todos ponham seus egos de lado e não percam de vista o fato de que novela é trabalho de equipe, e que quem manda é a emissora".
A Globo não quis se pronunciar, por se tratar de assunto "estratégico" e "interno".


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