São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007

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Crítica

Kubrick olha à frente de Mike Nichols

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"A Primeira Noite de um Homem" (TCM, 22h) e "Laranja Mecânica" (TCM, 23h50) passam em seqüência não por acaso, parece. Afinal, ambos trazem jovens rebeldes lutando contra um estado de coisas pré-existente, e não necessariamente querendo mudá-lo, mas apenas viver nele do jeito que bem entenderem.
Mas as coincidências param por aqui. O tímido Benjamin (Dustin Hoffman) de "A Primeira Noite..." volta-se contra os pais e suas regras antiquadas, que em nada o ajudam a encontrar o fio da meada da vida. Um levante caseiro.
Já o Alex (Malcolm McDowell) de "Laranja Mecânica" age a partir de uma crise maior: o sistema, arruinado graças a um projeto político infame, de modernização, com o Estado deixando todos a esmo, em completo abandono.
O resultado é que a ação rebelde de Ben o leva à inserção familiar, por via de um primeiro grande amor. Bem mais aveludada que a de Alex, que mata, espanca e estupra alucinadamente, num frenesi que o leva à ruptura (e êxtase) total.
Ambos filmes digníssimos, não haja dúvida, mas, enquanto Mike Nichols assina um trabalho voltado para as estreitezas existenciais, com Ben sendo um típico personagem do seu tempo (1967), Stanley Kubrick faz de seu "Laranja Mecânica" (1971) algo atemporal. Seu Alex responde não a um momento, mas a um processo histórico que continua avante, em marcha acelerada.

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