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Crítica
Kubrick olha à frente de Mike Nichols
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"A Primeira Noite de um
Homem" (TCM, 22h) e "Laranja Mecânica" (TCM,
23h50) passam em seqüência
não por acaso, parece. Afinal,
ambos trazem jovens rebeldes
lutando contra um estado de
coisas pré-existente, e não necessariamente querendo mudá-lo, mas apenas viver nele do
jeito que bem entenderem.
Mas as coincidências param
por aqui. O tímido Benjamin
(Dustin Hoffman) de "A Primeira Noite..." volta-se contra
os pais e suas regras antiquadas, que em nada o ajudam a
encontrar o fio da meada da vida. Um levante caseiro.
Já o Alex (Malcolm McDowell) de "Laranja Mecânica"
age a partir de uma crise maior:
o sistema, arruinado graças a
um projeto político infame, de
modernização, com o Estado
deixando todos a esmo, em
completo abandono.
O resultado é que a ação rebelde de Ben o leva à inserção
familiar, por via de um primeiro grande amor. Bem mais aveludada que a de Alex, que mata,
espanca e estupra alucinadamente, num frenesi que o leva à
ruptura (e êxtase) total.
Ambos filmes digníssimos,
não haja dúvida, mas, enquanto Mike Nichols assina um trabalho voltado para as estreitezas existenciais, com Ben sendo um típico personagem do
seu tempo (1967), Stanley Kubrick faz de seu "Laranja Mecânica" (1971) algo atemporal.
Seu Alex responde não a um
momento, mas a um processo
histórico que continua avante,
em marcha acelerada.
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