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FOCO
Militante revê no filme sua "atuação" como fã
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
"Quando as pessoas vaiavam, estavam vaiando a ditadura, e não as músicas."
A jornalista e militante Rose Nogueira, 65, explica isso
enquanto assiste a "Uma
Noite em 67" pela primeira
vez. Quer dizer, pela segunda, já que ela estava presente
no festival onde foi lançado o
Tropicalismo, Chico cantou
"Roda Viva" e Sérgio Ricardo
quebrou um violão.
Ela era uma das moças "de
tiara no cabelo, que já vinha
com uma peruca" que adoravam Sérgio Ricardo e, claro,
achavam Chico Buarque lindo. Rose tinha 20 anos na
época. E continua achando
Chico "lindo e com uma capacidade de construir poesia
como ninguém".
Na tal noite de 67, ela ficou
na parte de trás do auditório.
E, ao ver o filme, relembra de
tudo. "Olha o Sérgio Ricardo
pedindo calma. Lembro exatamente disso. E nessa hora
em que ele jogou o violão,
nossa, fiquei em choque."
Apesar de achar Sérgio Ricardo "um charme", Rose
torcia para "Roda Viva". "Está vendo ali? Eu era uma daquelas moças cantando "roda
mundo, roda pião"."
A jornalista torcia para
Chico em todos os festivais.
Mas até hoje se emociona
com "Alegria, Alegria".
"Que coisa maravilhosa.
Essa hora em que todo mundo grita "eu vou" é emocionante. As pessoas estavam
dizendo que não iam desistir.
E o Caetano estava lutando
com a poesia."
Ela acha que nem Caetano
(e nem ninguém no Brasil)
fez músicas tão bonitas depois "porque a ditadura veio
e acabou com tudo".
As músicas podem não ter
melhorado na opinião de Rose. Mas a aparência... "O Caetano era horroroso. Foi melhorando com o tempo. Desculpe, Caetano, mas você hoje é mais bonito."
"O Caetano também foi
preso?", pergunta a cozinheira da casa. "Todo mundo foi preso." Até Rose, que
um ano depois foi detida e
torturada no presídio Tiradentes, onde permaneceu
por oito meses. "Depois desse festival tudo mudou."
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