São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros Cidade em cena Companhia Teatro de Narradores ocupa ruas do Bixiga com espetáculo nascido da realidade do entorno, que estreia hoje GABRIELA MELLÃO DE SÃO PAULO Luciano, 7, trocou "Insensato Coração" por "Cidade Fim - Cidade Coro - Cidade Reverso", espetáculo da Cia. Teatro de Narradores que estreia hoje em São Paulo. Luciano não se lembra de quantas vezes viu os ensaios da peça, que nos últimos meses aconteceram bem no horário da novela, mas, quando invade a cena e imita a coreografia dos atores, prova que fez isso muitas vezes. Da mesma forma como o teatro foi incorporado na rotina dos moradores do Bixiga, bairro onde está sediado o grupo, "Cidade Fim - Cidade Coro - Cidade Reverso" nasce de sua realidade. "Nossas perguntas têm sido o que significa ocupar este espaço e qual relação conseguimos estabelecer com o entorno", explica o autor e diretor José Fernando Azevedo. A relação de convívio estabelecida entre artistas que fixaram sede no bairro em 2009 e habitantes do Bixiga foi incorporada não só como tema mas como linguagem. "Não queríamos usar a cidade apenas como cenário." A obra aprofunda a pesquisa realizada pelo grupo em "Cidade Desmanche", vencedora do Prêmio Cooperativa de Teatro de melhor espetáculo em espaço alternativo em 2010 e indicado ao Shell na categoria melhor autor. Também mistura realidade e ficção, tendo como base depoimentos -no caso atual, de moradores do bairro. Desta vez, entretanto, propõe três jogos distintos e se divide em três partes. "Cidade Fim - Cidade Coro - Cidade Reverso" é composto por um filme narrado ao vivo por seu elenco; um jogo inspirado no documentário "Jogo de Cena", de Eduardo Coutinho, em que os atores misturam depoimentos ficcionais e reais; e uma terceira parte, em que a obra sai do teatro e ganha a cidade, transformando rua, casas e bares do Bixiga em palco. As duas últimas apresentam mais uma camada ficcional, já que são filmadas ao vivo e as imagens são projetadas em televisores, nas paredes das casas vizinhas à sede do grupo e numa tela suspensa na parte exterior do teatro. A primeira parte retrata a trajetória de três operários no surgimento do movimento sindical em São Paulo, em 1980. Um deles se envolve com uma integrante de um grupo de teatro militante e, após um desencontro, sai à sua procura por sedes de grupos na periferia -a busca perpassa coletivos que de fato construíram a história do teatro político da cidade. A fábula é desenvolvida na segunda parte da obra, através da sobreposição dos depoimentos desses personagens e dos atores. A última parte volta-se ao destino dos personagens ficcionais apresentados no início do espetáculo. A ação agora acontece no presente. O clima de delírio toma conta da cena, a qual retrata tanto a realidade como o imaginário dessas vidas. TEATRO E POLÍTICA Formada há 14 anos por estudantes de filosofia da USP, a Cia. Teatro de Narradores sempre entendeu o teatro como um campo de discussão para refletir sobre as formas de convívio humanas. Quando o grupo se mudou para o Bixiga, a função política do teatro se impôs como prioridade de forma natural. "A gente foi descobrindo que nosso quarteirão é uma espécie de resumo das contradições do Brasil", diz Azevedo. Ele conta que idealizava um Bixiga mítico antes da mudança e que a realidade se mostrou bem diferente: um bairro degradado e múltiplo, capaz de abrigar, na mesma rua, cortiços, favela, escola, bares e grupos de teatro. Seus habitantes são, em grande parte, pessoas em trânsito. Mesmo os que vivem no bairro há 40 anos, diz, enxergam a fase como temporária, organizando a vida de acordo com essa percepção. A ação política de "Cidade Fim..." fica evidente para o espectador, que vê os moradores do bairro interferirem na trama, mesmo involuntariamente. É o caso dos clientes do bar que fica de frente a uma das cenas feitas na rua. "Cidade Fim..." sobrepõe camadas de realidade e ficção, na busca por um terceiro discurso que nasce dessa junção. "O espectador de hoje quer mais do que consumir uma imagem, quer uma experiência", diz o diretor. CIDADE FIM - CIDADE CORO - CIDADE REVERSO QUANDO sextas, sábados e domingo, às 19h; até 18/9 ONDE Espaço Maquinaria (r. 13 de Maio, 240 - 2º andar; tel. 0/xx/11/3853-3651) QUANTO grátis CLASSIFICAÇÃO 14 anos Texto Anterior: Última Moda - Vivian Whiteman: Estilo, nóis Próximo Texto: Crítica/Drama: Direção meticulosa confere gravidade a texto de Strindberg Índice | Comunicar Erros

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