|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Álbum é disco de intérprete
EDSON FRANCO
Editor de Veículos
Apesar de estampar o nome
de uma banda na capa,
"Blue" (Continental), novo
trabalho do grupo britânico
Simply Red, é um disco de intérprete, com tudo o que isso
tem de bom e de ruim.
O cantor Mick Hucknall cuidou para que todos os aspectos
que poderiam caracterizar
uma banda fossem escamoteados. Sob esse aspecto, a saída
de campo do guitarrista brasileiro Heitor TP é sintomática.
Assim, ninguém compete em
carisma com o cantor nas 13
faixas do CD. Sua voz é o fio
condutor e fator unificador da
obra. Da escolha do repertório
às fotos do encarte, "Blue" é
um disco de Hucknall. Ponto.
Mas, conhecedor de suas limitações fora do microfone, o
vocalista convocou quatro
produtores para cuidar das faixas, o que confere uma variedade pouco comum aos CDs
anteriores do Simply Red.
Com isso, Hucknall pôde ir
além das variantes da soul music -o que ainda faz melhor-
e se arriscar nas vicissitudes do
reggae, do standard jazzístico,
da dance music e do pop anos
60. Coube aos produtores a tarefa de armar a cama. Sobre
ela, Hucknall deitou e rolou.
Maduro, está cantando como
nunca, deixando de lado o uso
abusivo de falsetes e as afetações que marcaram seus primeiros anos de carreira.
Ao fazer isso, entra num jogo
que pode lhe custar alguns fãs.
Caminhando por um caminho
pedregoso, pelo qual já havia
trafegado George Michael,
Hucknall quer provar, com
"Blue", que pode ir além dos
quadrantes do pop ortodoxo.
Quase chegou lá. Falta outra
identidade que rivalize com os
vocais. Algo que fizesse da obra
um aglutinador de idéias, e não
um acúmulo de tentativas.
Enfim, o CD carece de um
conceito que tire dele o cheiro
de coletânea. Noves fora,
"Blue" é uma coleção de pérolas instantâneas e fugazes,
cantadas com uma afinação inquestionável e arranjos de bom
gosto. O que mais um fã de pop
pode querer?
Disco: Blue
Banda: Simply Red
Lançamento: Continental
Quanto: R$ 18, em média
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|