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FIAC - CRÍTICA
Divana é majestoso
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
Tesouro musical da humanidade, a música ancestral da Índia
tem no grupo Divana uma de suas
expressões mais majestosas. Pela
segunda vez em São Paulo, novamente a convite do Fiac - Festival
Internacional de Artes Cênicas,
que o escolheu para a abertura de
sua 8ª edição, o Divana só fica devendo uma amostra mais intensa
das danças de seu repertório.
Desta vez, o grupo trouxe somente uma de suas bailarinas, Suwa Devi, para interpretar a dança
da serpente, chamada Kâlbelya.
Expressão da casta errante "jogi",
formada por encantadores de serpentes, essa dança se inspira na
flexibilidade e na fascinação exercida pelo animal ao qual se refere.
Especialmente porque trazem
informações desconhecidas para
o público brasileiro, os espetáculos deveriam contar com programas mais detalhados sobre o que
se vê em cena.
Para quem não teve acesso a
maiores explicações, a tendência
é diluir tudo no conjunto e deixar
de distinguir, por exemplo, que a
dança apresentada por Suwa,
chamada Kâlbelya, vem da palavra Kâli, ou negro, cor que predomina na roupa da bailarina.
Ao desenvolver giros muito elaborados, Siwa transforma sua saia
ampla em uma espécie de roda,
que remete às técnicas da dança
sufi, relacionada a antigos ritos de
transe. Exigente no domínio do
torso, a dança da serpente ecoa
em movimentos do flamenco e
das danças ciganas árabes.
Com poucos minutos de duração, a dança Kâlbelya integra um
espetáculo repleto de preciosidades e revelações. Cantando ou tocando instrumentos como o "kartal" (espécie de castanhola), os
músicos do Divana mostram
quão requintada é a tradição de
seu povo, presente em todas as
manifestações cotidianas.
Para os ouvidos ocidentais, as
sonoridades do Divana representam um exercício. Como um ponto de equilíbrio que instiga a concentração, um fio sonoro atravessa todas as composições, que variam e se desenvolvem sempre
atreladas a esse núcleo hipnotizante. Junto aos Músicos do Nilo,
mais sóbrios em suas melodias, o
Divana compõe uma espécie de
yin e yang, num encontro de ressonâncias mútuas.
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