São Paulo, Sexta-feira, 29 de Outubro de 1999
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FIAC - CRÍTICA
Divana é majestoso

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

Tesouro musical da humanidade, a música ancestral da Índia tem no grupo Divana uma de suas expressões mais majestosas. Pela segunda vez em São Paulo, novamente a convite do Fiac - Festival Internacional de Artes Cênicas, que o escolheu para a abertura de sua 8ª edição, o Divana só fica devendo uma amostra mais intensa das danças de seu repertório.
Desta vez, o grupo trouxe somente uma de suas bailarinas, Suwa Devi, para interpretar a dança da serpente, chamada Kâlbelya. Expressão da casta errante "jogi", formada por encantadores de serpentes, essa dança se inspira na flexibilidade e na fascinação exercida pelo animal ao qual se refere.
Especialmente porque trazem informações desconhecidas para o público brasileiro, os espetáculos deveriam contar com programas mais detalhados sobre o que se vê em cena.
Para quem não teve acesso a maiores explicações, a tendência é diluir tudo no conjunto e deixar de distinguir, por exemplo, que a dança apresentada por Suwa, chamada Kâlbelya, vem da palavra Kâli, ou negro, cor que predomina na roupa da bailarina.
Ao desenvolver giros muito elaborados, Siwa transforma sua saia ampla em uma espécie de roda, que remete às técnicas da dança sufi, relacionada a antigos ritos de transe. Exigente no domínio do torso, a dança da serpente ecoa em movimentos do flamenco e das danças ciganas árabes.
Com poucos minutos de duração, a dança Kâlbelya integra um espetáculo repleto de preciosidades e revelações. Cantando ou tocando instrumentos como o "kartal" (espécie de castanhola), os músicos do Divana mostram quão requintada é a tradição de seu povo, presente em todas as manifestações cotidianas.
Para os ouvidos ocidentais, as sonoridades do Divana representam um exercício. Como um ponto de equilíbrio que instiga a concentração, um fio sonoro atravessa todas as composições, que variam e se desenvolvem sempre atreladas a esse núcleo hipnotizante. Junto aos Músicos do Nilo, mais sóbrios em suas melodias, o Divana compõe uma espécie de yin e yang, num encontro de ressonâncias mútuas.


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